Alfredo
Eu
sei que você estava cansado por causa das noites mal-dormidas na
sinuca, no carteado e na safadeza que você chama de trabalho noturno.
Sei
que seus olhos já não são os mesmos de tanto virar a noite no pôquer
do Bar do Amaro, ainda por cima com toda aquela fumaça de cigarro.
O
cigarro ainda vai te matar, Alfredo.
Reconheço
que você não é mais tão garoto, as rugas e a barriga que você tenta
encolher toda vez que eu olho distraída, estão aí e não me deixam
mentir. Depois do quadragésimo regime, você desistiu e aceitou que
nunca vai largar o chope e os tira-gostos da madrugada.
E
tem inveja de mim, que posso olhar meus pés, sem precisar fazer
ginástica e contorcionismo.
Deve
ser por isto que me mandou os mesmos bombons que odeio.
Com
a perna quebrada e sem fazer exercício é que não dá para eu deixar
o regime, Alfredo. Mas um braço perfeito é suficiente para te dar
a porrada que você merece.
Sei
que você não é mais o mesmo.
Nossa
cama que o diga. A idade chega para todos.
Sabe
quem veio me visitar? O português da padaria, lembra dele? Trouxe
umas flores bem bonitas e desejou boa sorte para você.
Você
precisa mesmo, não é Alfredo?
O
Joça mandou a conta do conserto do carro dele e anexo a esta vai
a continha do hospital.
Quando
sair da cadeia, coração, estou esperando para acertarmos a conta
principal.
Sei
que você é maluco, irresponsável, estava cheio de cana e nunca ligou
pra sorte do carro e da vida alheia.
Mas
podia ter me deixado em casa antes de entrar com tudo na contramão.
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