SEM
PÉ E SEM CABEÇA
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Rosi
Luna
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Essa é a história de um
pé. Não era um pé de pato, um pé de flor e nem era um pé-de-galinha. Era
um pé feminino que se apaixonou por outro pé. Ele tinha uma vidinha normal.
Vivia com as unhas naturais e sem esmalte. Um dia viu que tinha que mudar,
precisava criar atrativos, se enfeitar mais para o seu amor e talvez até
comprar um anel. Ele caminhou até achar um salão, criou coragem e disse:
- Pinta minhas unhas de vermelho sangue. A manicure achou que ia ficar lindo - era um pé de pele muito branca. Ela começou a preparação de todo o ritual de beleza. O pé mergulhou na água de uma bacia azul de plástico e ficou lá até todas as pelinhas adjacentes da unha ficarem moles. Ele pensava, falando alto. - Todo esse sacrifício, vai valer a pena. Quando a moça na melhor das intenções pegou uma lixa para passar na sola do pé, ele estatalou de rir. Ela notou que ele tinha cócegas e não conseguiu grandes feitos. Mas o pé tinha uma pele fina e nem precisava lixar mesmo. Ele era naturalmente delicado, parecia pé-de-bailarina. E apesar disso não tinha nenhum calo de sapatilha. O pé saiu do salão de beleza, com as unhas vermelhas, era como se ganhasse vida, vestindo aquela roupa tão chamativa nas unhas. Decerto seu amor iria notar. Ele queria afagos em cada dedo e chegando até o mindinho. O pé saiu cruzando ruas e vendo outros tantos pés andando pela calçada. Ele ficava perdido naquela multidão de sapatos e tênis. Ele procurava ver outros pés, mas parece que todos estavam presos, ninguém quase usava sandália. Nada, não dava pra ver nenhum dedinho de fora. O pé ia fazendo observações pelo caminho. - O mundo era mesmo muito fechado, como um coturno do exército. Todos os pés ali presos e sem luz dentro de um sapato e sem poder observar o sol que brilhava tão lindo lá fora e o principal sem poder tomar pé da situação. Uma dúvida lhe atormentava era se o seu amado achasse ele um pé sem cabeça, assim do jeito que estava parecia mais um pé que usava um disfarce ou uma roupa do cinema. Pensou imediatamente em Kelly LeBrock em a "dama de vermelho". E aquela música não saía do seu pé de ouvido, era de de Stevie Wonder, começou a cantarolar baixinho. - "I just called to say i love you..." Pegou um pé de estrada e resolveu que iria caminhar até chegar ao encontro. O pé planejou cada sensação que gostaria de sentir. Primeiro um longo abraço, depois um café fumegante e em seguida uma música. O pé queria dançar, se sentir embalado. O pé estava radiante e usava até um anel de brilhante pra impressionar bem seu amor. Usou seu melhor perfume. O pé era muito confuso, não sabia se amava o pé ou cabeça do seu queridinho. E se amasse as duas coisas. As cenas foram acontecendo como só um pé de imaginação poderia sonhar. Eles não tinham pé-de-meia e nem planos pra um futuro. O pé feminino foi amado por um pé-de-página. Eles perderam os pés a cabeça e viraram um pé de fantasia. Como ele era um pé-quente o amor foi tão grande que quase foi preciso chamar um pé de vento. O pé dançou tanto e virou um pé de valsa e amou tanto que virou um pé de sentimentos e plantou um pé de amor no coração do pé escritor. Esse pé não era um pé-de-chinelo era um pé descalço que andava livre pela vida amando os pés que cruzassem seu caminho. |
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