INSENSATEZ
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Renata
Manzano
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Não havia ninguém tão boa
em disfarces como ela. Ninguém era capaz de projetar tantas personalidades
em si mesma... E de realmente vivenciar todas elas ao mesmo tempo, numa
miscelânea intrigante...
Consciente de sua condição, temia pender para um só lado, definitivamente. O seu pior lado. Tentava se convencer de que não era má de todo. Apenas parcialmente, devido ao seu caráter multifacetado... Esse pensamento a confortava. Mas a idéia de um deslize, uma ação sem volta, ou uma simples palavra, impossível de reter depois de proferida, era uma sensação funesta a perseguí-la sem cessar... Não queria, contudo, ser simplesmente arrastada ao sabor dos acontecimentos, joguete do destino ou de qualquer um. Decidiu então enfrentar a si mesma e à sua vulnerabilidade: pegou suas poucas coisas, saiu, chorou pela última vez na sua vida, pela última vez teria algum sentimento, de agora em diante seria só uma busca desenfreada de sensações, sem pensar em ninguém, ela, somente ela, defendendo a si mesma da crueldade de pessoas como ela própria. Mas finalmente perderia o medo de um dia ser o que acabara de se tornar. E não precisaria mais de disfarces. |
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