AS
APARÊNCIAS CONDENAM
ser inocente X parecer culpado |
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Paulo
Panzoldo
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Preconceitos se abandonam
e conceitos se ampliam quando se contempla a 'realidade' como sujeito
filosófico. Essa contemplação oferece provas luminosas da existência de
um espaço aberto aos sentimentos humanos, sejam eles objetivos ou subjetivos.
Mas existe um risco em ser um sujeito filosófico, um observador externo: da ilusão sentimental resulta um outro Ser, feito de têmpera diferente da anterior. O Paraíso era, segundo Rousseau, a transparência recíproca das consciências, a comunicação total e confiante. Na era da informação a íntima certeza da inocência é infinitamente mais impotente contra as provas aparentes, do que nos tempos em que viveu o filósofo. A comunicação da aparência, virtual, ocorre quase que em tempo real, já, a comunicação da evidência da dor que se experimenta interiormente, quando vítima das aparências, não. É praticamente impossível comunicar a dor provocada pelo ferimento interno na mesma velocidade do julgamento do sujeito. Vivemos no tempo do maior crescimento dos malefícios causados pelas aparências encontrado até o presente enésimo de segundo. O próximo, quem sabe? As almas já não se encontravam em 1700, que diria eu em 2001 às pessoas que sentem prazer em ocultar o que realmente são? Um simples deslize, uma única palavra fora de ordem pode levar à ruptura entre o pouco que resta da unidade entre o 'ser' e o 'parecer'. A Humanidade, no geral, é doce, inocente e costuma agir com justa severidade, segundo Rousseau. Porém, é constantemente enganada pela aparência da 'justiça'. Esta, é forte demais, está contra toda a Humanidade. Não há 'culpado' em parte alguma, há sim, um 'parecer-culpado', um objeto, uma informação que surgiu por acaso e precipitou a 'punição'. Apesar dos que pensam o contrário, somos todos inocentes. Nossas relações sim, é que estão sendo corrompidas pelas aparências e, consequentemente, pelas 'injustiças' causadas. Aos que caem na desgraça da 'realidade da aparência da justiça' será necessário um esforço brutal, inumano e cruel para percorrer o caminho de volta à posição ser/parecer anterior. Todavia, o ferimento será tão grave e doloroso, que jamais conseguirá retornar ao mesmo ponto. Nada, jamais, será como antes. Não existe força no mundo capaz de restituir-lhe a antiga posição. A revelação da mentira, a máscara caída, a dor do ferimento, só se descobre isso como vítima do 'parecer-culpado', nunca como sujeito. Como um sujeito filosófico que analisa o objeto de fora, meu julgamento é posto em dúvida pela mediação enganadora de meus sentidos. Por isso, não julgo. Mas, mesmo julgando, por certo estarei agindo mal, sem no entanto, ser responsável pelo mal existente no mundo. Por isso me escondo, e se me escondo, é por que primeiro a 'Verdade' se escondeu. Esse o motivo da Humanidade sentir-se cada vez menos envergonhada de seus atos. |
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