DISFARCE
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Lisa
Simons
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Disfarça, ninguém te vê!
Será?
Disfarça, tem alguém te olhando. Sorria, é uma câmera do circuito interno de TV. No quarto tem um espelho, cuidado é pura enganação, do outro lado um voyeur te observa saciando sua imaginação! É câmera na sala de aula, também no corredor, idem no supermercado, no cinema, no aeroporto, na fábrica e no elevador! Nem das vitrines escapas, tem umazinha registrando na tela teu interesse de consumidor. Atravessou o sinal vermelho, a faixa de pedestres, não parou! Correu acima dos limites, paciência, ela registrou! A cobrança certamente já foi emitida na impressora do computador. Passa-se o cartão no caixa automático, lá está escondidinha outra lente gravando teu desconsolo diante do extrato. Pudera, teu dinheiro que era minguado acabou! No prédio tem vazamento, piso carcomido, telhado quebrado, mas nada foi mais importante que uma dúzia e meia das tais engenhocas a captar os teus passos. Ah! São tantos espelhos, tantas fotos, tantos "tapes", cadê privacidade? Não se pode mais viver tranqüilamente, passar em branco nesta cidade. Registram tua aparência a todo instante, cobram-te um perfil suave, um corpo esbelto... isso sem falar de cabelos brilhantes, pele macia sem imperfeições. Até nos pés, não admitem, imagina, calosidades. Implicam com o odor das axilas, exigem alvura nos dentes e no globo dos olhos. A bunda, essa não pode cair jamais, os seios menos ainda, afinal, silicone está aí pra que? Você é mumificável, virou um pote de cremes, uma cara a mais a ser registrada. As cabeças, as pernas, as nádegas se sucedem, num ritmo alucinante sem trégua! São medidas, caras e bocas, poses e passarelas... E diz a moça: Eu me amo, me basto e sou linda, devo mostrar tudo que tenho e ser bem paga. Preciso de um apartamento, de ser conhecida e rápido! O tempo voa, minha sede é muita, já, já, a gravidade me alcança! Narciso, salva esta mulher perdida! Cada dia que passa levam-te mais a sério! Saudades do tempo em que só havia os espelhos do restaurante, da loja de roupas e aquele comprido no quarto, já sem aço, refletindo tudo muito igual... Agora registram tudo, conferem-te de cabo a rabo, de menos o conteúdo do vaso. É sem menos importância, para eles está apenas cheio de ar... Disfarça e sai correndo, se puderes, este mundo é cada vez mais estranho, sinto muito... teu tempo? Já acabou. |
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