- O melhor disfarce é a nudez.

Todo disfarce é uma espécie de traição. E toda traição é perdoável desde que seja confessada ou que traga algum benefício para a pessoa traída.

Veja o caso das pegadinhas na televisão. Uma esquipe de atores se disfarça e arma um tremendo mico para um desconhecido qualquer pagar. E, no final das contas, o desconhecido, que devia se sentir ultrajado, acaba autorizando a exibição do mico que pagou. E autoriza por dois motivos: porque a equipe confessou o disfarce, apontando para a câmera escondida; e porque lhe foi oferecida uma compensação, no caso alguns minutinhos de fama.

Ou então aquele filme chamado O Retorno de um Estranho (Sommersby, 1993), em que após a Guerra da Secessão "Jack Sommersby (Richard Gere) volta à sua cidade. Antes um homem bruto e insensível, ele agora é gentil e delicado. Até sua mulher, Laurel (Jodie Foster) não tem certeza se ele é o mesmo homem com quem se casou, mas apaixona-se por este novo homem." No caso do filme, um homem retorna para casa no lugar de seu companheiro de cela e, apesar de nem se parecer fisicamente com o falecido, é aceito pela comunidade e pela família do morto. Por quê? Porque ele é muito melhor para todos do que o antigo Sommersby, e porque sua traição é confessada, não por ele mesmo, mas por todos, que admitem duvidando que ele não é o outro.

O melhor disfarce é a nudez porque, estando nus, os outros põem em nós a roupa que seus olhos quiserem. E as roupas com que os outros nos vestem nos escondem mais do que qualquer roupa que nós mesmos escolhêssemos.

Da próxima vez que for convidado para uma festa a fantasia, e não quiser ser reconhecido, vá nu. Da próxima vez que roubar um banco, vá nu. Da próxima vez que for pego no flagra, em qualquer situação, tire a roupa e seja perdoado. Tire a roupa, melhore a vida de todo mundo e faça o que quiser. Tudo é permitido se você está nu. A nudez é o melhor disfarce.