Alfredo,
É
claro que você não me enganou com aquela capa rídicula de Arlequim
e a máscara preta que eu mesma fiz para sua fantasia de Colombina
quando saiu no bloco do Atrasei, mas Cheguei.
Eu
sempre soube que era você.
Conheço
seu jeito de pegar o cigarro. O dedão que não consegue impedir de
subir, apesar de toda a gozação do pessoal do escritório. Pensa
que eu não descubro o contorno das suas mãos, mesmo dentro das luvas,
que já esqueci o modo como segura uma mulher?
Então
não sou capaz de reconhecer sua voz, apesar de abafada pela máscara,
no meio de toda multidão enlouquecida? Mesmo que mil bandas tocassem
saxofone na minha cabeça, eu iria sentir bem alto o seu sussurro
de amor.
Você
acha que a capa pode disfarçar os ombros que tantas vezes besuntei
de óleo, que tantas vezes massageei na cama?
Posso
ter esquecido o seu olhar? Coisa mais absurda, amor, eu sempre soube
que eram seus olhos me chamando no meio do salão.
E
mesmo que não houvesse nada disso. Mesmo que eu não soubesse o toque,
as mãos, os ombros, o olhar... Alfredo, faça-me o favor, eu conheço
seu cheiro, coração!
É
claro que eu sabia que era você no Motel Beira-Mar, apesar do apagão.
Pára
com essa bobagem de ciúme e vê se atende o celular.
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