FANTASIA
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Ana
Peluso
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Um disfarce só é bom quando
convence. Senão, não é disfarce. É fantasia. E aí a coisa pega mal, porque
fantasia, sabe como é... Tem aquela cara de loja de aluguel de trajes,
entre os quais, as fantasias são presentes e freqüentes, tanto quanto
as contas no fim do mês. Então pra que remediar, quando se pode curar?
Disfarce é disfarce, e deve ser tratado como tal, mesmo que essa atitude
implique em gastos excedentes. Afinal de contas se é para gastar, que
se gaste com algo que convença. É isso. Tem de convencer.
Imagine um disfarce de faquir, sem colchão de pregos? Ou um domador de elefantes, sem elefantes. E não adianta fazer de conta que sua sogra é o elefante, porque todo mundo vai notar que é sua sogra. Só pelo fato da cara dela ser idêntica a da sua sogra. O que pode significar também que é a sogra de seu melhor amigo, disfarçada da sua. Aí se percebe a diferença entre fantasia e disfarce! Uma sogra nunca será um elefante, por mais que se pareça com um. Agora uma sogra pode muito bem ser outra sogra. Compreende?... E, se o disfarce tem de ser legítimo, o jeito é botar a mão no bolso, gastar mais, e ter um verdadeiro elefante para que seu disfarce de domador seja o mais legítimo possível. Agora, como domar o bicho já não sei. Deve vir com manual na caixa. Se não vier, reclame no SAC do Ibama, seção Importação de Elefantes. - - - Você já foi a uma festa de disfarce? Não é festa a fantasia. É festa de disfarce mesmo. Não? Você entra disfarçado, conversa com todo mundo que também está disfarçado, e todos fazem de conta que o reconheceram. Mas não o reconheceram! Você está disfarçado, lembra-se? Tá certo que sempre tem o mal disfarçante. Esse é pego, e vira gozação para o resto da vida. Disfarce de político em festa é o mais comum e barato. Basta colocar um terno e abusar da retórica. Pronto. Já sai de lá pré-candidato de algum partido que não sabe ao certo qual é, e se existe, de verdade, por também se encontrar disfarçado. Disfarce de perua é caro, mas é comum também. De emergente tá ficando na moda. Todo mundo quer um... Mas nem sempre cabe mais um... Mas o legal é quando o cara se disfarça de coelho. Foi o melhor disfarce que já vi em festas de disfarces que freqüente! O sujeito passou a noite roendo uma cenoura (de verdade, daquelas com cor de cenoura!) enorme, e emitindo uma mistura de grunhido com espirro. Achei que era asmático. Só depois entendi que tentava imitar um coelho ruminando... Fora o nariz vermelho que ele teve de disfarçar muito bem, com pó de arroz, provavelmente, o que acabou lembrando o tom róseo do nariz dos coelhos, porque estava com uma baita espinha bem em cima do mesmo, e pelo que me consta, coelho não tem espinha. Mas até hoje não sei quem era. Em alguns momentos chego a me perguntar se não era ele um coelho mesmo. Sei lá... O pelo era tão branquinho, e ele tão fofinho... Mas o disfarce mais comum hoje em dia (acredite) é o de eu sou útil. Todo mundo anda bem disfarçado. Não dá nem para perceber quem é real e quem está apenas disfarçado, porque geralmente as ações nunca são mostradas. Apenas comentadas, e olha lá... E nessa burocracia verbal, tudo (disfarçando a natureza) pode se transformar... O universo pode muito bem ser um disfarce. Mal disfarçado de qualquer coisa que queira imitar, mas pode muito bem ser. Quem garante o contrário? Isso pode ser um conto disfarçado de crônica, só para prender a atenção dos amantes de crônicas, e quando eles perceberem estão envolvidos em um conto intrínseco e dramático, onde o protagonista é o ser humano e sua eterna involução. Acalmem-se. Isso é uma crônica, ou na melhor das hipóteses, um pensamento disfarçado de crônica mesmo, o que a torna uma mera tentativa. O disfarce. E eu posso ser apenas eu mesma, disfarçada de mim mesma. Nada mais. Quanto à festa do disfarce, estamos no aguardo do próximo convite. Nesse ano, o tema não é variado não. Todos devem ir disfarçados de disfarçados. Quem for o melhor disfarçado de disfarçado da noite, ganha um disfarce de cidadão. |
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