Tema 030 - EMBRIAGUEZ
BIOGRAFIA
O MDC
Viviane Alberto
Estava decidido. Pacto feito. Também, depois de tanto vinho, tomadas pela embriaguez, ninguém se assustou com a sentença: já que compartilhavam tudo, desde angústias até o mesmo edredom, como naquela noite, dividiriam também o tesouro encontrado por uma delas: o Carlos.

Qual o problema? Não eram amigas, modernas, liberadas?

- Liberada? Eu sou casada!

- É, mas não ta morta. Se não quiser, tudo bem, sobra mais.

- Não disse que não queria, muito pelo contrario. É um tempero a mais. O sabor de proibido... Quando mesmo, heim?

- É, quando?

- Gente, mas eu nem falei nada pra ele ainda! E se ele não topar? Sei lá, assustar. Pense bem, somos quatro. Quatro mulheres. Eu só posso estar maluca, e bêbada, pra concordar com uma coisa dessas.

E passaram a noite toda discutindo os detalhes. Quando seria? Como seria? Uma de cada vez? Todas juntas?

- Ai, ai, ai, não sei o que faço se vocês encostarem a mão em mim!

É, uma de cada vez seria melhor. Mas tinha que ser no mesmo dia. E aí, pensaram no Carlos (um detalhe, o Carlos). Descreveram com requinte as mais sinistras intenções.

Naquela noite ninguém dormiu . Nem o Carlos, aliás. Disse que não pregara os olhos. Tinha passado a noite estranho, um pressentimento...

No dia seguinte, quando ele, a vítima, encontrou a namorada, levou um susto.

Não era ela, era outra pessoa. Não. Não era uma pessoa. Aquele brilho nos olhos, a face mais iluminada. Ele não soube se seu coração acelerou ou parou. Não era mais um homem. Era uma presa e não podia correr. E nem queria correr.

Quando finalmente lhe contou o que ela e suas amigas haviam decidido na noite anterior ele percebeu que era verdade: ele não correria. Decidiu ficar e se render. Que usassem e abusassem.

Deve ter sido uma das poucas fantasias realizadas naquela cidade. Quatro mulheres, uma de cada vez. Uma diferente da outra. E todas lá, só para ele. Unidas, a essência de Afrodite. Ele sozinho, soberano, MDC. O Máximo Divisor Comum.

No dia combinado, tudo foi perfeito. Ele conduziu cada uma de uma maneira e todas chegaram ao seu limite. Apesar de diferentes, todas tão iguais. No início o medo, a insegurança. Depois, num misto de excitação e entrega, elas gritavam, o seguravam com força. Pediam mais.

Depois resolveram que tinham perdido o receio, iriam todos juntos, agora que tinham tido suas experiências particulares. Foi um delírio. O ápice. Quando acabou, saíram cansados, mas felizes. Meio trôpegos, mas satisfeitos.

Os operadores do brinquedo sorriram. Afinal, não é todo dia que um grupo se diverte tanto na montanha russa.

Protegido de acordo com a Lei dos Direitos Autorais - Não reproduza o texto acima sem a expressa autorização do autor