BÊBADO
DE PERFUME
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Eduardo
Loureiro Jr
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Era um verdadeiro sucesso
com as mulheres.
Não com as mulheres que entram num elevador e o infestam de perfume. Nessas ele batia e estuprava, desvairado mas nunca preso: as mulheres ficavam tão transfiguradas que não tinham coragem de ir à delegacia; ou talvez gostassem. Levava à loucura as mulheres que colocam um leve perfume nos pulsos, no cangote e entre os seios. Perdera a conta e a memória das conhecidas e das desconhecidas de que desfrutara em lugares que só nos filmes servem para o sexo. Era alcoólatra. Não dos que bebem chacaça, cerveja, uísque. Se embriagava com o álcool aromatizado dos perfumes. No fundo do frasco, era um homem tímido. Mas à primeira fragrância se transformava num conquistador. Saía-lhe da boca a palavra certa. E, de suas mãos, o movimento exato, o toque que despertava nas mulheres perfumadas um tipo também de embriaguez, uma tontura, uma perda de equilíbrio, um vôo. As mulheres se embriagavam dele, que se embriagava delas, de seu perfume. E os dois bebiam um do outro até perderem os sentidos e sentinelas. Depois do sexo, o suor, o esperma liberado, algo em sua composição química, anulava o efeito do perfume. Ele vestia a roupa, tímido novamente, observava com saudade e incredulidade a mulher estendida e inconsciente na cama, no elevador, no beco sem saída, e partia, imune ao vício por algumas horas, até o suor secar, evaporar, até o sêmen se acumular novamente, até uma mulher perfumada cruzar seu caminho com um novo aroma. |
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