A
LUZ DOS OLHOS TEUS
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Gesimário
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No
meio do caminho tinha uma pedra, dizia o poeta, pra lembrar que a vida não
é uma linha reta. Mas no meio da alegria, o que teria?
Brasília, 02 de maio de 1981 (tudo parece tão distante naquela cidade... só você, não). Eu dizia que era maio. Feriado. A capital tinha o ritmo da preguiça, nos que andavam e nos que se sentavam nos vastos canteiros gramados, falando de coisas ou assistindo o dia passar, tão calmo como a cadência de uma espera amorosa. Era o que eu via pela janela do apartamento, segundo andar... asa sul... entrequadra... O telefone me resgata para o meu interior. - Aniversário? - Certo. - Nove e meia... sim, claro. Não te disse ainda, mas era Sábado, e até que anoitecesse as horas passaram como uma espera amorosa. Tive todo o tempo do mundo pra descobrir que precisava de um cinto novo, comprar espumante para barba e olhar pela janela. Fui dos últimos convidados a chegar, apesar de não ter nada sério com que me ocupar; todos já iam a meia velocidade nas alegrias. Bocas, batons, riam toda a brancura dos dentes. Cabelos esvoaçavam em movimentos bruscos de cabeças; abraços, beijos. Pisoteavam-se todas as saudades de reencontros. - Mário? - é a primeira vez que vejo um velho caramujo sem casca. - Pedro... Amigo de infância é sinal de revivências: escolas, namoradinhas... pequenos escândalos que se supunha esquecidos. - Ah,.. obrigado, aceito. Um sem número de rostos familiares. Fui reacendendo luzes em todos os cômodos das lembranças. Iluminei-me. Me recompus no antigo sátiro libertino de outros tempos e encenei estórias que produziram risos ruborizados. As bocas das mulheres agora tinham um brilho de seiva aromática que lhes emprestavam um gosto irresistível de armadilha. Foi quando percebi - e eles estavam lá o tempo todo, mas antes me permitiu um desejo de condenado, pois o resto da vida seria presa deles, ... como sou - foi quando percebi, no meio de corpos, luzes, vozes, roupas e cores, os olhos verdes de Sônia. |
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