Tema 029 - NO MEIO DA ALEGRIA
BIOGRAFIA
HOMEM QUASE EM CRISE
Beto Muniz

Essa semana eu quase entrei em crise.

Não vou dizer que era a crise dos quarenta, pois ainda não cheguei nessa idade, se bem que sempre fui de vanguarda... Tenho trinta e seis anos e os adolescentes do condomínio me chamam de tio. E o pior! Eu os chamo de garotos. Só agora me dei conta desse detalhe. Não é que eu tenha pretensão de não ser um tiozinho, a crise que falo não tem nada a ver com isso. Aliás, adoro ser tio dos meus quatro sobrinhos.

Percebeu que estou desviando o assunto? É difícil falar sobre, quando a gente (quase) passa por uma crise...

A crise pensou em chegar junto com a constatação de que eu poderia ser um frustrado. Sim! De repente, num estalo, achei que poderia ter colecionado umas frustrações no decorrer dos anos sem perceber.

Quando tinha uns dezoito anos, eu pensava que com o dobro de idade, exatamente aos trinta e seis, eu seria um adulto cheio de certezas e respostas. Pensava que nenhuma das dúvidas que me atormentavam e dificuldades que enfrentava seriam minhas companheiras ou causas de inquietações quando me tornasse adulto. Tinha certeza que seria um adulto pleno e realizado, cheio de conquistas e glórias. E rico! Tinha certeza que seria rico e dinheiro não seria problema para o homem de trinta e seis.

Errei... Errei feio!

Aos dezoito anos, eu tinha tanta certeza que depois de adulto eu não teria problemas, que fiquei feliz por antecipação. Fui vivendo a vida sem grandes sobressaltos e deixando os anos passarem sem me preocupar com o amanhã. Durante mais dezoito anos eu fui feliz assim, com a certeza que as coisas iriam acontecer. Fui acumulando profissões, amigos, mulheres, filhos, sonhos (que com certeza realizaria mais tarde), histórias e alegrias tantas, enquanto o tempo passava, que nem percebi o trinta e seis chegando.

E o trinta e seis chegou!

Devo confessar que ele chegou sem alarde. Chegou e ficou ali, quietinho como se fosse apenas mais uma idade qualquer. Eu nem percebi. Mas nessa semana uma amiga fez trinta anos e eu fui parabeniza-la. Ela estava em crise. Começou a dizer que não tinha realizado tudo que havia sonhado aos quinze e antes de ela terminar a frase eu já estava retornando, em pensamentos, para os meus dezoito anos. Foi então que percebi que meus trinta e seis anos estão quase de partida e eu não fiz o balanço da minha vida. Nem quero fazer... Sem fazer balanço eu já contabilizei o resultado desses últimos dezoito anos: decepcionei o jovem de dezoito anos que eu era!

No meio da alegria em que eu vivi todos esses anos, o adulto cheio de certezas e respostas ficou esquecido e não veio a tona. Sou um adulto cheio de dúvidas e atormentado por dificuldades. As inquietações de quando era adolescente ainda me acompanham. E quer saber o que é mais chato nisso tudo? Ainda sou pobre! Ainda considerei: “Ao menos no quesito fortuna eu não posso estar frustrado; se aos dezoito anos eu tinha certeza que dinheiro não seria problema para o homem de trinta e seis, eu estava certo... Hoje, dinheiro é solução”. É, tentei amenizar as coisas utilizando o meu constante bom humor, mas na verdade eu, de trinta e seis, era um homem quase em crise.

O rapaz de dezoito anos sonhando com um mundo cheio de certezas, respostas e dinheiro, estava quase dominando o meu ego quando fui salvo pela lembrança de que ainda tenho tempo. Sim, tenho mais trinta e seis anos para me redimir. Se eu tinha certeza que bastariam dezoito anos para mudar minha vida, agora eu tenho o dobro desses anos para mudá-la realmente. Mais trinta e seis anos de chance... É mais que suficiente!

Abandonei de imediato essa frescura de entrar em crise e decidi não ser tão severo comigo mesmo. Afinal o que sabe da vida um garoto de dezoito anos? A vida começa agora, aos trinta e seis. Estou mais experiente, mais esperto, mais calejado... Ainda sem respostas, sem certezas e sem dinheiro, mas também tenho apenas trinta e seis anos! Com certeza aos setenta e dois serei um senhor digno de causar inveja ao rapaz de dezoito.

É isso aí, aos setenta e dois terei respostas para todas perguntas da vida. Por hora vou aproveitar a vida. Se der tempo acumulo também uns trocados.

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