DR.
JECKYLL & MR. HIDE
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Viviane
Alberto
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Ele tinha dois dentro de si. E se mostrou inteiro pra ela. De certa forma, ela se apaixonou tanto por Dr. Jeckyll quanto por Mr. Hide. Ficava difícil separar um do outro, já que não distinguia mais o criador da criatura. Em alguns momentos - grandes, bons momentos - ele parecia o Sol. Como no instante em que ele surgira em sua vida. Era em poesia barata que ela pensava, quando se recordava daquela figura, aparecendo em meio a tantas outras pessoas... mas nunca ninguém fora tão único nem tão definitivo. Ele tinha algo que prendia, desde o primeiro momento. Como se não fosse possível sobreviver se não estivesse ali, borboleteando ao lado dele. Cantando com ele, ou compartilhando do seu silêncio. Ela o observava, sem pronunciar meia palavra, como se os sons pudessem quebrar o transe que sua proximidade induzia. Ela o ouviria falar por horas. Passaria dias aninhada a seus pés. Se ele imaginasse as coisas que passavam pela cabeça dela. Se soubesse que já não tinha um corpo, mas um Atlas. Estudado, calculado, navegado.Corroído pela imaginação. Ninguém poderia ter culpa, era alguma coisa que os contaminava e mantinha ali. Algum tempo depois, a vida fez com que uma nuvem estranha passasse a acompanhá-lo o tempo todo. Assim, todos os dias se tornaram sujeitos à tempestade. Era tão mais fácil delegar as mudanças à vida, pra não ter que dar nome às pessoas, às circunstâncias. Ignorar a verdade dos acontecimentos. Quando ele foi embora (parece inevitável que todos partam um dia), deixou um vazio enorme que nada conseguia preencher. Ela ficou congelada no tempo e vive lá até hoje, debruçada naquela janela. Olhando, ninguém é capaz de dizer se suas lágrimas são pelo médico ou pelo monstro. Sentimentos desse tipo só existem no passado. E é normal que você os estranhe. São platônicos, reconhecidos apenas pelas meninas. |
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