A
SOMBRINHA VERMELHA
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Rosi
Luna
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Hoje comi uma maçã bem vermelha
inteirinha. Fiquei imaginando que a fruta é como um desejo e que por isso
não gosto de nada em frações. Gosto de comer tudo e deixar só um talinho
abandonado no prato.
E por falar em vermelho lembrei que quando era bem pequena ganhei uma capa de chuva com uma sombrinha de naylon bem vermelhinhas. E quando choveu fui na rua pisar nas poças d'água. E ali sozinha vendo os pinguinhos dançando sonhava em ser como FredGene Kelly no filme "Cantando na Chuva". E sapateava imaginando ser uma grande bailarina. A minha sombrinha ficou molhada de lágrimas da bailarina que nunca saiu da calçada. Os palcos não apareceram. Tudo ficou partido ali na infância e entendi que nada é inteiro e tudo fica pela metade. Fui crescendo e tudo foi me dado em frações até as pessoas elas só davam um parte do seu afeto. Achei alguns corações pelo caminho e eles também eram vermelhos e divididos. A chuva continua caindo e não tenho mais minha sombrinha vermelha para me amparar. Hoje nem tenho mais aqueles sonhos de menina. Me contento com tudo que o acaso me oferece. Pensei em não aceitar mais meia palavra. Palavras inteiras e diretas não as encontro. Ando perdida em evasivas e como dói não entender os propósitos. Não reprimi meus desejos apenas guardei e deixei os corações longe. O vermelho da paixão me encanta e me faz uma pessoa completa. Mas me divido em amores por palavras partidas. E ando tendo visões. Vi um guarda-chuva e uma sombrinha andando lado a lado na rua de mãos dadas, diria até que existia um namorico. Eles se tocavam de raspão. Sentiam sensações que não eram divididas o coração saltava na chuva. As bocas estavam secas e tinham palpitações. Uma felicidade quase inteira. O amor não parava de rolar como os pinguinhos d'água. A sensação molhada da chuva lembrava corpos suados. O guarda-chuva abraçou sombrinha e a beijou ternamente. Um beijo sem hastes com sabor de água límpida e fresca. Ficaram juntos só durante o temporal. O sol apareceu e os separou. Quem sabe eles se encontram numa próxima chuva na calçada e dançam um bolero juntos... |
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