Tema 028 - MEIA PALAVRA
BIOGRAFIA
MEIAS PALAVRAS, MEIAS CONVERSAS
Larissa Schons

1.

Lindo dia, um mar calmo, um azul gritante no céu, os pássaros cantando, o desabrochar da primavera e a felicidade batendo na sua porta. Andréia permanecia na sua varanda pensando nas coisas que iria dizer, seu coração palpitava freneticamente. Tinha que lhe dizer tudo que sentia. Dizer do amor que a consumia. Desceu os degraus da escada pensando na primeira frase "Roberto, você é o homem da minha vida!". Piegas demais, não gostou. Mas tinha que dizer algo forte, fortíssimo, algo que revelasse tudo que estava sentindo. Ficou na dúvida se um "Eu te amo" bastaria. De qualquer forma ia dizer. Ou era isso, ou era nada. Respirou fundo, passou a mão pelos seus cachos, deu uma mordidinha nos lábios e abriu a porta. Olharam-se fixamente e quando Andréia falava o Eu... Ele a beijou. Beijo ardente, de duas pessoas carentes, que mais pareciam dois adolescentes enroscados nos braços, no corpo e na mente. Por dez segundos meias palavras bastaram.

2.

- Alô.

- Alô, Tatiana?

- Sim. Quem é?

- Sou eu, Fernando.

- Oi amor. Como foi a sua reunião?

- Um saco, amor. O seu Rachadel ficou falando das manjadas dificuldades que existe na área da educação. Falou que deveríamos tratar com mais empenho o projeto "Amigos da escola". Que isso de certa forma é uma luz no fim do túnel e como tal, deveríamos divulgar, colocar cartazes em todo o colégio, falar para os alunos se possível em todas as classes. Porque você sabe que a dona Tereza organizando isso, não dá certo, né?

- É. Hoje cortei o cabelo.

- Mas ela insiste em comandar isso. E o pior, o Jardel pegou as dores da mulherzinha. Tá defendendo a Tereza, acredita?

- Acredito. Amor, comprei um vestidinho também.

- E ele fazendo isso você sabe, né? As outras professoras correm atrás que nem patinho. Mas tudo bem, eu é que não vou me incomodar por pouca coisa. Ela que se vire com esse projeto. A minha parte está feita. Já divulguei o projeto aos alunos. Falando em alunos, hoje um deles aprontou feio, comigo. Tive que chamar os pais do garoto sabe onde?

- Onde, mor? Soninha acabou de chegar. Manda beijos.

- No hospital. O garoto levou aquelas benditas bombas pra escola e quis brincar no banheiro. Resultado: estourou com tudo. Vidro pra tudo quanto é lado. Ficou uma coisa imunda. O pivete todo machucado. E eu como deixei a peste ir ao banheiro durante a aula tive que parar tudo pra levá-lo ao hospital. A mãe do garoto estava desesperada disse que ele nunca tinha feito uma coisa dessas. E chorava, abraçava o filho, mas no final o pivete saiu tranqüilo do hospital e ainda teve a coragem de me mostrar um dos pedaços do vidro da janela como se fosse um troféu, o seu troféu. Eu tive que rir do garoto. Santa safadeza! Vamos assistir Pearl Habor, hoje?

- Sim. A panela tá queimando no fogão.

- Às 20:00 eu passo aí pra te pegar. Te amo, amor!

- Te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, também. Até às 20:00. Beijo grande.

3.

Raquel e Bernardo via e-mail:  

Ela - Bernardinho, meu querido! Conheci a sua casa aqui em Porto Alegre. Você me falou que era na frente da rua Vinte e quatro horas. Quase do lado das lojas Americanas. Pertinho da Catedral metropolitana. Uma casinha branca com telhados bege. Um jardim lindo na frente. Aliás, as orquídeas estão lindas. E tem até passarinhos. Na hora que cheguei passava um bem-te-vi, coisa mais linda! O portão estava semi-aberto me deu medo de entrar. Não sei se realmente é a sua casa. Numa dessas, era casa de traficante, né? Hahahaha brincadeirinha. A casa está muito bem cuidada pra ser de um marginal. Mas sabe está tão cuidadinha que até parece que você vem aqui sempre. Seria essa a casa que tu diz que tens aqui? Aguardo ansiosa seu e-mail. E me explique tim tim por tim tim, ok? Beijos, Quel.  

Ele - É essa.

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