1.
Lindo
dia, um mar calmo, um azul gritante no céu, os pássaros cantando,
o desabrochar da primavera e a felicidade batendo na sua porta.
Andréia permanecia na sua varanda pensando nas coisas que iria dizer,
seu coração palpitava freneticamente. Tinha que lhe dizer tudo que
sentia. Dizer do amor que a consumia. Desceu os degraus da escada
pensando na primeira frase "Roberto, você é o homem da minha
vida!". Piegas demais, não gostou. Mas tinha que dizer algo
forte, fortíssimo, algo que revelasse tudo que estava sentindo.
Ficou na dúvida se um "Eu te amo" bastaria. De qualquer
forma ia dizer. Ou era isso, ou era nada. Respirou fundo, passou
a mão pelos seus cachos, deu uma mordidinha nos lábios e abriu a
porta. Olharam-se fixamente e quando Andréia falava o Eu... Ele
a beijou. Beijo ardente, de duas pessoas carentes, que mais pareciam
dois adolescentes enroscados nos braços, no corpo e na mente. Por
dez segundos meias palavras bastaram.
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2.
-
Alô.
-
Alô, Tatiana?
-
Sim. Quem é?
-
Sou eu, Fernando.
-
Oi amor. Como foi a sua reunião?
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Um saco, amor. O seu Rachadel ficou falando das manjadas dificuldades
que existe na área da educação. Falou que deveríamos tratar com
mais empenho o projeto "Amigos da escola". Que isso de
certa forma é uma luz no fim do túnel e como tal, deveríamos divulgar,
colocar cartazes em todo o colégio, falar para os alunos se possível
em todas as classes. Porque você sabe que a dona Tereza organizando
isso, não dá certo, né?
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É. Hoje cortei o cabelo.
-
Mas ela insiste em comandar isso. E o pior, o Jardel pegou as dores
da mulherzinha. Tá defendendo a Tereza, acredita?
-
Acredito. Amor, comprei um vestidinho também.
-
E ele fazendo isso você sabe, né? As outras professoras correm atrás
que nem patinho. Mas tudo bem, eu é que não vou me incomodar por
pouca coisa. Ela que se vire com esse projeto. A minha parte está
feita. Já divulguei o projeto aos alunos. Falando em alunos, hoje
um deles aprontou feio, comigo. Tive que chamar os pais do garoto
sabe onde?
-
Onde, mor? Soninha acabou de chegar. Manda beijos.
-
No hospital. O garoto levou aquelas benditas bombas pra escola e
quis brincar no banheiro. Resultado: estourou com tudo. Vidro pra
tudo quanto é lado. Ficou uma coisa imunda. O pivete todo machucado.
E eu como deixei a peste ir ao banheiro durante a aula tive que
parar tudo pra levá-lo ao hospital. A mãe do garoto estava desesperada
disse que ele nunca tinha feito uma coisa dessas. E chorava, abraçava
o filho, mas no final o pivete saiu tranqüilo do hospital e ainda
teve a coragem de me mostrar um dos pedaços do vidro da janela como
se fosse um troféu, o seu troféu. Eu tive que rir do garoto. Santa
safadeza! Vamos assistir Pearl Habor, hoje?
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Sim. A panela tá queimando no fogão.
-
Às 20:00 eu passo aí pra te pegar. Te amo, amor!
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Te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo,
te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo,
te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo, te amo,
te amo, também. Até às 20:00. Beijo grande.
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3.
Raquel
e Bernardo via e-mail:
Ela
- Bernardinho, meu querido! Conheci a sua casa aqui em Porto Alegre.
Você me falou que era na frente da rua Vinte e quatro horas. Quase
do lado das lojas Americanas. Pertinho da Catedral metropolitana.
Uma casinha branca com telhados bege. Um jardim lindo na frente.
Aliás, as orquídeas estão lindas. E tem até passarinhos. Na hora
que cheguei passava um bem-te-vi, coisa mais linda! O portão estava
semi-aberto me deu medo de entrar. Não sei se realmente é a sua
casa. Numa dessas, era casa de traficante, né? Hahahaha brincadeirinha.
A casa está muito bem cuidada pra ser de um marginal. Mas sabe está
tão cuidadinha que até parece que você vem aqui sempre. Seria essa
a casa que tu diz que tens aqui? Aguardo ansiosa seu e-mail. E me
explique tim tim por tim tim, ok? Beijos, Quel.
Ele
- É essa.
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