Alfredo,
Se
você pensa que estou sofrendo depois que você partiu, pode
tirar seu cavalinho da chuva. As olheiras são por causa do
cachorro que não me deixa dormir, latindo desesperadamente
para a porta, a espera da sua chegada da farra costumeira.
Emagreci dez quilos porque não preciso mais fazer aquela comida
gordurosa que você adorava e posso experimentar essas saladas
deliciosas, nunca antes permitidas aqui em casa.
Estou
usando de novo a mini-saia indecente e o biquíni cavado que
escondi no armário, mentindo ter jogado no lixo. Lembra do
português que me entregava o pão de graça e seu ciúme me fazia
devolver depois, morta de culpa? Precisa ver como me segue
na padaria. E os outros então? Em frente ao botequim da esquina
já nem passo mais para preservar minhas pernas e a minha bunda
da intensidade com que me devoram aqueles olhares masculinos.
Adoro
esta cama vazia onde me espalho, sem seu ronco me acordando
às cinco da manhã e deixando cansada o dia todo. Acabaram,
misteriosamente, os telefonemas na madrugada, o respirar feminino
do outro lado e o mentiroso dizendo sempre que era engano.
Eu, tonta, fingindo acreditar porque era mais fácil e porque
amava tanto.
Lembra
da pia que você quebrou no dia do meu aniversário, quando
não quis chamar o bombeiro porque essas coisas eu mesmo
resolvo e que ficou tão torta que nunca conseguia segurar
o sabonete? Era nossa pia de Pisa você gostava
de brincar. Depois trouxe flores e uma caixa de bombons que
dei pro gato porque estava de regime há dois meses e o
eterno romântico esqueceu.
Você
sempre estragava os melhores momentos.
Como
quando acertou no milhar do avestruz, gastando todo o dinheiro
pra me comprar um colar que eu nunca pude usar. E aquela sonsa
da Luzia ganhou um igualzinho de um namorado misterioso...
.
Pois
consertei a pia, vendi o colar e dei entrada naquele Fiat
de segunda mão do seu Antero que a gente sempre namorava na
garagem.
Agora
vem chorar que está arrependido e quer voltar. Pede perdão
e tudo, diz que a sem-graça da Laurinda nem me chega aos pés.
O
Alibabá me trouxe seu recado, pedindo resposta urgente.
Estou
respondendo, coração:
Pra
bom entendedor, meia palavra basta:
Fod!
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