PONTUAÇÃO
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Alberto
Carmo
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A
pontuação determina o ritmo da leitura. Não pode ser pouca, senão o leitor
não consegue entender o texto. Nem pode ser demasiada, senão o leitor não
terá paciência para ler um texto que se desenvolva em soluços.
Há que se ter talento e criatividade ao se pontuar um texto. Fazer dele uma coisa que dê vontade de continuar a leitura, sem cansar, nem deixar o leitor perdido num mar de letras. Pontuar é um ato semelhante ao polvilhar de canela num prato de arroz-doce - há que se ter critério. Um travessão mal colocado pode ser pior que trombada de bonde com carroça de mulas. Quando você dispara a falar, derrama orações e períodos a bel prazer, torce uma ou outra frase, manipula o significante e o significado, está fazendo farofada, comendo frango no texto. Vai ficar aí bradando sem eira nem beira? Claro que não! Se você não for capaz de ajeitar uma vírgula, uns parênteses sequer, não passa de um banana, de um escritor de periferia. Vá escrever na Freguesia do Ó! Agora, se você é cuidadoso com um texto, como se estivesse fazendo uma omelete, vai tratar de colocar alguma pontuação no que diz. Tenho certeza de que você não vai querer ser mais um língua de trapo, como aqueles que abundam na Internet. Se você é meio cru "a nível de ortografia", vamos começar pelo seu registro de nascimento. Há algum erro por lá? Se houver, compre uma corda, amarre no chuveiro, e boa viagem! Escrever tem coisa de DNA, de infecção, de poluição familiar. Se não vem de família de boa escrita, só um milagre vai salvar sua alma. Detalhe muito importante, serve como um intróito: - Nunca, salvo em ocasiões geniais, escreva sobre você. A maioria dos aprendizes de escritor só sabe falar sobre seus pobres egos e vidas. Fale de outros, escreva na terceira pessoa, crie situações, imagine loucuras. Você acha que alguma pessoa está interessada em saber que você veio de família pobre, que teve um tio que trouxe uns livrinhos de presente, ou os livros que você leu, as mulheres de quem levou um pé na bunda? Não perca seu tempo falando de você. Sua vida não tem o menor interesse a ninguém. Se tem problemas com auto-afirmação, não escreva, vá a algum analista. Se precisa sentir que é visto, que existe, ainda não inventaram método melhor do que uma melancia no pescoço. Use e abuse dela. Citações são coisas muito sérias. Cite apenas para os seus filhos. Cite o que quiser. Fale dos conselhos do vovô, das ladainhas da mamãe, etc. Mas não encha o saco dos leitores com citações dos livros que você leu. Isso não interessa a ninguém. Os citadores são os maiores malas que existem - a maioria não passa de leitores de orelhas. Poupe seu público de suas citações. Se precisa citar para escrever alguma coisa, pouco oxigênio há em seu cérebro, está prestes a sofrer um derrame. Enfie a mangueira do borracheiro no ouvido, e infle. Quando escrever, respeite a inteligência, e até a burrice, dos leitores. Diga algo que valha a pena ler, use a imaginação. E não saia metralhando vocábulos desvairadamente. Compre uma meia dúzia de vírgulas, uns pontos de exclamação, uns finais também. E ponha algum controle no que escreve. Citando advogados, tudo que você escrever poderá ser usado contra você. Portanto, não dê munição ao inimigo, nem ouro ao bandido. Se leitura, erudição, determinassem os grandes escritores, os aposentados, que lêem quilômetros de bulas, estariam tomando o chá das cinco na academia. Se a sua praia é ficar citando, então entre na raia certa da piscina. Se for escrever algo que se aproveite, fuja das regras e do passado. Ao mundo só resta o futuro, e que dele façamos bom proveito. Se o que procura é auto-afirmação após os trinta, perdoe-me, mas seu caso é freudiano. Se quer contar sua biografia, ampliada e melhorada, aos pobres leitores, avise antes, não nos pegue de surpresa. Avise-nos antes, porque temos coisas mais importantes a fazer. Se não tiver nada de interessante a dizer, ponha um ponto final e estamos conversados! |
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