Tema 027 - LAVOU, TÁ NOVO
BIOGRAFIA
O NOVO CONCEITO DO NOVO
Luís Augusto Marcelino

Confesso: não sei o que vou escrever dado o tema da semana. Tá bom! Isso é jargão de escritor. Fingir que não tem assunto para escrever uma crônica sobre a falta de inspiração - eu mesmo já fiz isso! Eu, João Ubaldo, Veríssimo, Rubem Braga e outros amigos que fazem da crônica o seu passatempo ou seu ganha-pão. Mas a questão não é a falta de assunto. É o tema sugerido. Tem tudo para terminar "lavou, tá novo!" Seria, da minha parte, bastante incômodo terminar assim.

Então estou meio perdido e, até o presente momento, não me veio nada à cabeça. Acho que vou Ter que esperar amanhã (o Word acaba de colocar, sem minha autorização, um T maiúsculo na palavra Ter. Tá vendo? De novo... isso já aconteceu com meu amigo Veríssimo e ele, lógico, satirizou os avanços da tecnologia. Da minha parte, acho que quem criou o revisor gramatical do aplicativo foi o Bill Gates em pessoa, já prevendo uma parceria com o Sílvio Santos para vender computadores a preços populares!!!???). Pensando bem, acho que vou recorrer à minha avó. Ela achava que tudo estava novo, exceto meu avô. Nem precisava lavar, para dizer a verdade. "Vai com essa roupa mesmo, menino! Tá novinha." Laranjas passadas há tempo, o avental da escola, o lápis de cor raspado na lateral com o nome escrito, o kichute (nem sei se é assim que se escreve) sem travas, o conga azul marinho, cujo bico parecia a frente da antiga kombi. Tudo. Tá novo, tá novo. Muitas vezes eu morria de vergonha. Mas não a contrariava. Se ela mandasse, estava mandado e pronto.

- Quero um tênis novo, pai! - pediu-me o caçula.

- Mas sua mãe não comprou um na semana passada, moleque? Vai dizer que já estragou?

O problema não era o envelhecimento precoce do tênis. Mas acontece que não era Nike. E não sendo Nike, o garoto sentiu-se envergonhado.

Minha mania leviana de tratar criança como adulto não deve servir como referência para domar a molecada de hoje, mas quis convencê-lo que vergonha era justamente ele querer usar a marca que tinha até nome de CPI. "Quando crescer, vai me agradecer, Bruninho!" O moleque tem nove anos...

- E um patinete?

- Pede para o seu avô, que adora mexer com madeira. Aliás, tenho um amigo que pode arrumar as rodinhas de ferro. Deixa eu ligar pra ele...

- Não, pai... é igual aquele do Leonardo, entende?

- E quanto custa?

- Cento e cinqüenta...

- Cê tá louco???

Pode parecer mesquinhez, mas juro que não é. Dia desses comprei outra bicicleta para o menino e me arrependi. Aliás, bicicleta não é mais bicicleta. Virou bike. Pois comprei em substituição à antiga, não porque ela estivesse velha. Eu mesmo caprichava em passar bombril nos aros, em lavá-la com carinho, em ajustar o selim à medida que o Bruno ia crescendo. Ele queria outra justamente porque aquele modelo não estava mais na moda. A bike nova chegou e, não precisou de uma semana, virou sucata na garagem de casa. Eles pensam que dinheiro é capim? Assim nao dá!

Outro dia minha mulher me disse que precisava de um sapato novo. Isso porque ia ao casamento de uma colega do trabalho. Tá certo, o dinheiro é dela, tem o direito de fazer o que bem entender. Mas outro sapato??!! Ofereci-me para engraxar os "velhos".

- Pára de ser muquirana, Antunes!

- Não é questão de mesquinhez não. Mas olha quantos pares tem aqui na sapateira?

- Eu é que não vou ao casamento com um sapato velho.

- No meu tempo...

Não quis saber. Virou-me as costas. Uma semana depois comprou o sapato e seguiu feliz da vida para a igreja. Nem me convidou, a desaforada!

Se for aplicar o conceito de novo da minha mulher e do meu filho, acho que estou precisando de um novo amor para ser feliz.

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