Incrível como EU TE AMO assume conotações pecaminosas quando estamos dentro duma congregação religiosa derivada do cristianismo. Nem parece que foi Cristo quem pediu que amássemos uns aos outros... Enfim, foi abandonar o caminho estreito da salvação que sem dó, nem piedade, eu jogava essa frase mirando fixo dentro dos olhos das mocinhas que tinham fé em Deus e, a partir de então, em mim também.

Brincava com os sentimentos alheios objetivando favores nada cristãos (Senhor tende piedade de mim quando nos encontrarmos no paraíso!). Até que fui pego no laço da passarinheira. Caí de amores por uma moça, donzela ainda, que apesar de olhar em meus olhos e sorrir apaixonadamente quando ouvia minhas juras, não de deixava levar para os cantos escuros e afastados de onde aconteciam os cultos.

- Deus tá "oiando"! - dizia ela.

- "Oiando" o que? Deus está ocupado com os fiéis que oram, não com a gente que se ama.

Eu tentava rebater a crença dela com argumentos lógicos. Minha lógica, claro! No entanto ela tinha muita fé:

- Ele bota tento em tudo...

- Em nós não bota. Deus não se preocupa com quem se ama, afinal Deus é amor... Não é?

- É, mas ele "óia" a gente pra gente não cair em tentação, não cair em pecado de morte.

- Que mané morte o quê? Quando você experimentar, nunca mais vai querer morrer.

- Posso até gostar, mas nunca mais serei pura!

- Que isso? É só lavar que fica puríssima como no dia em que nasceu...

- Tem jeito não. Comigo não tem essa de lavou tá novo, daqui "num" saio. Num "arredo" pé!

Dizia isso sorrindo, enquanto me beijava o lábio de maneira ilícita. E de beijo em beijo eu fui ficando preso em seus pudores e em seu viço como se fosse um passarinho... Vários cultos se passaram sem que eu conseguisse tirar a moçoila para um canto mais afastado. Tempos depois, senti que ficar preso era contra minha natureza. Desprendi-me, lavei-me e voei. Novinho em folha, pronto para outra.