Tema 026 - MORRER DE AMOR
BIOGRAFIA
SE SE MORRE DE AMOR?
Thiago Camargo Lopes

- "Isso é amor e desse amor se morre" é a coisa mais idiota que já ouvi, Marlene. Me desculpa, mas esse Gonçalves Dias viajou legal, ninguém morre de amor! Amor não existe!!!

- Ai, Benito, eu não aguento seu anti-romantismo. Não aguento essa sua mania de achar que sempre está certo, não aguento esse seu jeito de querer dar a última palavra em tudo.

Fazia um ano que esse diálogo encerrava o romance de Benito e Marlene. Ele não deu muita importância, afinal não sofria por amor. "Jamais !!" dizia ele. Marlene passou dois meses num spa, onde conheceu Ponciano, um velho que era o romantismo em pessoa, com quem passou a morar.

Benito soubera que Marlene estava morando com alguém através de uma amiga em comum. Jamais a procurara e nem dera a chance que a outra o achasse. Sempre racional e pragmático, ele rechaçava qualquer tentativa de comprovação do amor. Dizia ele, admirador que era de Bandeira, que não concebia do amor senão o gozo físico. Tal pensamento inclusive o fez duvidar que Marlene estivesse bem, pois, ao ver uma foto do casal que a amiga em comum trouxera, comentou que as concepções estéticas a qual deram origem ao corpo de Ponciano significava que alguém lá em cima tinha um senso de humor fantástico ou um sarcasmo desmedido. Era impossível que ela gostasse daquela bola...

Dias depois de ter visto aquela foto, ele começara a pensar o quão satisfeita Marlene ficava na cama, mas isso não se refletia na mesa do desjejum. Ele sempre se cuidara fisicamente e sempre fora vigoroso, mas ela não achava isso suficiente. Sempre queria escutar uma frase, ganhar um presente – ao que Benito dizia que era tudo besteira... E assim acabavam as discussões deles, “isso é besteira, Marlene!!! Tudo besteira!!”.

De uma hora pra outra ele foi invadido por uma imensa dor de cotovelo. Não era possível que aquele gordo a satisfizesse mais... Ou talvez ele a fizesse acreditar que a amava. Tem homem que não presta mesmo... Amor não existe!!!

E foi por isso, pra provar que amor não existia, que Benito escreveu uma carta a Marlene antes de dar um tiro na têmpora direita.

“Desejada Marlene, não pense que faço isso só porque sinto sua falta ou porque penso que eu seria muito melhor pra você do que esse leão marinho que deve dizer que te ama. Se dou um tiro em minha cabeça agora é porque isso é mais  fácil do que viver sem você. E não pense que morro de amor, Marlene. Morro, sim, por falta de amor-próprio e por falta de seu amor que, se existe mesmo, é desse gordo que está contigo. Ninguém morre de amor, morre por falta dele. E sabe o porquê? Porque amor não existe, isso é besteira, Marlene!!! Tudo besteira!!!”

- Que carta é essa, Marlene?

- Nada, meu amor... É besteira! Já disse que te amo hoje?

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