SE
EU PUDER...
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Mairy
Sarmanho
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Um dia, quem sabe, ainda morro de amor. Mas o que significa, realmente, isso: morrer de amor? Será perder-se nas delongas da vida, nos entranhados do corpo, nas obscuridades de uma paixão aflita, insana, quase indecorosa? Será sofrer cada segundo de um amor intenso, repleto, gigantesco, que preenche cada milímetro de nosso corpo, sufocando-nos até pararmos de respirar? Ou será sobreviver apenas de seu gosto (ou desgosto), mastigando a própria alma até consumir-se na mais desvairada alucinação? Isso será morrer de amor? Ou será diferente: amor platônico, romântico, doce, esmaecido pela palidez da doença da qual padece, rastejando entre a docilidade furiosa que arranca de si mesma a loucura, fingindo ser até acreditar que é? Será uma brasa morna que nunca se acende, mas que jamais pode apagar? Ou será a promessa eternamente cumprida, onde imploramos por uma sepultura anexa, já que não se pode viver sem aquela presença que cura e mata, ao mesmo tempo? Disso eu nada sei... Sei apenas do amor que sinto... Amor que não consigo traduzir em palavras, para o qual abri meu coração por inteiro, deixando entrar tudo o que queria: vento, chuva, sol, fogo, solidão, medo, encanto... Amor repleto de dar e receber, amor quase completo... Como alcancei isso? Fiquei em cima do mundo, observando, como uma águia espreita os campos atrás de uma presa... Quando o vi, abri minhas imensas e insólidas asas de sonhos e sobrevoei as almas, procurando aquela que me satisfaria... Assim alojei-me em seu peito, encolhida, minúscula e gigante, esperando que de mim necessitasse... Quando isso acontecer, eu desço, agasalho-me entre seus braços e consolo seu coração sem esperança... Sou anjo, estou pronta para ajudar. Morrer de amor? Acho que isso os anjos não podem fazer... |
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