REMENDO
|
|
Eloi
de Lima Xavier
|
|
Naquela noite fria e chuvosa,
tinha deixado o escritório desarrumado, papéis em cima da mesa, porta
semi-aberta e fui embora mais cedo. Parei no bar em frente ao prédio e
bebi até não sentir os pés no chão. Queria esquecer tudo que estava acontecendo
entre eu e ela, mas por mais que eu me esforçasse, a lembrança não saía
da minha cabeça.
Foram anos de mais repleta felicidade. Tinha jogado milhões de sonhos pela janela e me entreguei totalmente a este amor. Além de tudo éramos grandes amigos, e talvez foi essa amizade que prolongou alguns anos a mais o nosso fracassado casamento. Às vezes, pensava comigo, como um relacionamento pode se iniciar tão rápido e demorar tanto para terminar. Pois, estávamos separados, mas no fundo pertencíamos um ao outro, mente, espírito e coração. Sentia sua presença, naquele imenso apartamento e podia até tocá-la em meus sonhos. Nos últimos tempos, sentia que algo iria mudar as nossas vidas. Já não havia mais diálogos e tudo era motivo para discussão. Quando ela soube que não poderia ter filhos, sua visão do mundo e da vida mudou completamente. Discordava das minhas idéias e já não falávamos a mesma linguagem. No dia em que ela foi embora, encontrei no chão, nossa fotografia de casamento rasgada ao meio. Hoje, guardo esta foto na gaveta, unida por um remendo. Lá estamos unidos. Mas nossas vidas, não há remendo que as una novamente. |
|
Protegido
de acordo com a Lei dos Direitos Autorais - Não reproduza o texto
acima sem a expressa autorização do autor
|