MORRENDO
EM AZUL
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Beto
Muniz
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Assim como eu, odiava batuque. No carnaval ele queria distância da folia. Era avesso a suor e pandeiro. Foi parar em Brasília seguindo indicação turística de um amigo que também detestava o fuzuê. Apesar da estranheza de destino em pleno carnaval, o vôo estava lotado. "Muita gente deve detestar o paticumdum" - pensou. Chegou na cidade monumento (tombado) e fez o passeio cívico logo no primeiro dia. Conheceu os palácios que lá existem: Alvorada, Buriti, Planalto, da Justiça... Também visitou a capela, o prédio das cuias. A inversa e a reversa. Subiu na torre de TV e de lá viu Brasília aos seus pés. No dia seguinte, domingo, foi conhecer o parque da cidade. Parque um tanto quanto enorme, nem precisava ser daquele tamanho para tão pouca gente. Cumpriu todos os roteiros da cidade e no terceiro dia repetiu o passeio cívico à noite. Foi então que surgiu o convite para visitar o salto de Itiquira. Uma cachoeira em Formoso, Goiás. Arrumou a mochila e foi. Os amigos levaram uma amiga, mulata sem samba no pé. Ele se esbaldou em beijos, braços e suor. Sem percussão! Na fotografia debaixo da cachoeira a fatalidade. Um galho veio com o rio e acompanhou o salto do Itiquira abaixo. Sambando um enredo surdo, o pedaço de madeira achou a cabeça do fotografado que fugia do carnaval. No instante em que seu coração perdia o compasso, ele ainda pode admirar o azul intenso do céu de Goiás... Morreu sorrindo para a mulata enquanto a ala das baianas rodopiava na avenida. | |
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