A
CALCINHA NO VARAL
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Alberto
Carmo
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Mesmo
que não quisesse, era inevitável. Toda manhã lá estava ela, mínima, quase
insuficiente, pendurada a secar. Chegava pingando pérolas, apagando os segredos
da noite passada.
Invejava o sol afortunado, que sorvia, bêbado, aquelas gotas inundadas do néctar que sonhava beber sedento. Ela chegava com a manhã, sempre bem vestida, discreta, mas torneada. Usava sapatos de salto alto, com bico fino - mal agasalhavam os dedos delicados. Tão logo entrava, ia ao quarto e iniciava o ritual matutino. Sentava-se na cama e tirava os sapatos. Mantinha a janela aberta, com tênue cortina. Podia vê-la, como se estivesse envolvida pela neblina. Descalça, ela erguia uma das pernas e descia a meia. A perna ia sendo descoberta aos poucos - a coxa, o joelho, os pés. Depois repetia a cena. Por fim, exibia as duas pernas inteiras, perfeitas. Abria a gaveta da penteadeira e guardava um maço de notas. Depois caminhava até a janela e abria as cortinas. Pegava na barra do vestido, pouco acima dos joelhos, e o despia lentamente. Descobria a barriga, os seios. Respirava o ar da manhã, e se abraçava, tocada pelo vento frio. Percebia sua pele arrepiada, os mamilos rígidos, sem calor. De sua janela, ele enlouquecia, envolto pela penumbra do quarto. Ela olhava em sua direção, como se nada visse, exibindo-se como bailarina, que se entrega à platéia. Ia até o espelho, vestida apenas com a parca calcinha, e se acariciava. Ficava de costas, com todas aquelas curvas iluminadas pelo abajur. Pelo movimento dos quadris, o balanço lânguido da cabeça, ele sabia que ela se tocava. Notava-lhe o movimento discreto do braço, as pernas abrindo-se aos poucos. O gemido brando, mas profundo. Quando se voltava, via-lhe os dedos molhados, oleosos. Ela ia até a janela, respirava fundo, e se sentava novamente na beirada da cama. Abria as pernas, e descia a mão até que sumisse dentro da calcinha. O movimento era lento no início. Aos poucos aumentava, ficava quase violento, rápido. Em certos momentos, ela dobrava uma das pernas e se virava para o lado, cobrindo a mão escondida. Seus gemidos agora aumentavam, cresciam. Eram roucos, ritmados, longos. Ela se punha de quatro, os peitos esmagados no colchão, e acelerava o movimento da mão, agora num vaivém frenético, sem controle. Dava um grito, um urro abafado. Descia a calcinha até o começo das coxas, e deixava ver aquela pele molhada, os dedos encharcados. Apertava as pernas, num tremor suave, e despia a última peça, já completamente banhada por seus líquidos, manchada pelo prazer vazado. Levantava ofegante e ia até o terraço, nua. Abria a torneira da pia, onde lavava a testemunha de seu gozo longo e perpétuo. Levantava os braços - os seios livres - e a estendia no varal. Ele quase se projetava pela janela, em busca daquela peça preciosa, aguada. Queria sentir-lhe o cheiro, o gosto. Ela voltava ao quarto, fechava a cortina e adormecia despida - as coxas ainda escorrendo. Ele passava o resto da manhã à janela, fitando, como um louco, aquela peça pendurada no varal, como se fosse um país, que ele, ébrio Napoleão, quisera invadir. |
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