TCHUTCHUCA
|
|
Alberto
Carmo
|
|
Minha
bem-amada,
Cuida que eu jamais deixe de fazer meu check-up anual, que me agasalhe nas madrugadas serenas. Não deixa que eu abuse das gorduras e carboidratos. Não permita que eu exagere na cerveja, nem que esqueça de comer legumes, ou abandone as caminhadas semanais. Reza para que eu aposente o isqueiro, e que jamais ande descalço no chão gelado. Dá-me coragem para chutar o traseiro do meu chefe, quando ele tentar me passar estresse. Dá-me força para que eu recorra ao Procon, quando me sentir lesado pelo colesterol, e não me revolte mais. Pede aos teus deuses que inventem poções milagrosas, que me apaguem a tristeza invasora, quando leio a lista dos mais vendidos da Veja. Protege-me, minha querida, para que eu jamais morra de outra coisa, que não seja de amor por ti. Lembra-me sempre dos teus olhos, para que eu só enxergue a beleza do mundo. Faz-me desmanchar em emoções, deixando-me ver teu cotidiano por todos os meus dias. Enlouquece meu coração de deleite, permitindo-me ver-te acordar todos os dias. E entorpece todos os meus sentidos, mostrando-te tão mulher quanto sempre foste. Ama-me, minha adorada, para que eu viva eternamente apaixonado. Não chores jamais, nem te deixes entediar por qualquer distância que, por ventura, te separem de mim. Não te aventures pelos becos da melancolia, nem te deixes invadir por escuridões inesperadas. Não te entregues nunca à solidão, nem te socorras nas garras da impaciência. Não deixa dominar-te dor alguma, para que eu jamais adoeça, a não ser por saudades de ti. Mas não votes no Lula, a não ser para garçom em cruzeiros ao Caribe, nem te entregues aos seriados nova-iorquinos da TV a cabo, que são um verdadeiro holocausto, e queimam os neurônios dos imprudentes que os experimentam. Afasta-te da menor idéia de tostar congelados no microondas, e não sucumbas, nem em pensamento, a permanecer por horas a saltitar como uma pipoca nas academias, porque já és linda demais. Mantém-te assim tão perfeita, poderosa, no teu precioso bom-gosto, para que eu me sinta um inquilino da cobertura de Versailles - parce que je t' aime, mon amour! Mas nunca deixes de correr descalça, de pousar uma flor nos teus cabelos, nem de conversar com os pássaros, que insistem em te acordar nas tuas manhãs. Nem me poupes de te ver a andar nas águas rasas dos lagos, a me provocar a libido, com o vislumbre das tuas formas generosas, para que eu sucumba aos teus encantos. Com o perdão da palavra: - Vem aqui pro teu tigrão! |
|
Protegido
de acordo com a Lei dos Direitos Autorais - Não reproduza o texto
acima sem a expressa autorização do autor
|