Tema 025 - OS PECADOS CAPITAIS
BIOGRAFIA
UNHAS
Marina W

Às vezes eu rôo unha. Gosto de roê-las, mastigá-las e engoli-las, nessa ordem. Meu filho, quando ainda era um minúsculo bebê, roía as unhas no berço. Nunca pensei que isso existisse, meu deus, um bebê! De forma que, enquanto iam crescendo, meus filhos ouviam a mesma lenga-lenga diária: se engolissem as unhas - aquelas deliciosas meias-luas - um médico teria que abrir suas barriguinhas para retirar as imensas bolas pontiagudas que se formariam lá dentro. Mesmo com esse futuro amendrontador nós três continuamos dispensando a tesourinha. Com o tempo, meu filho parou com essa mania, se dedicando apenas a puxar com os dentes aquela pelezinha dos cantinhos, que dói e quase sempre sangra. Minha filha, quando a vaidade bateu à porta, parou de vez. E eu continuo a roê-las de modo alternado, de quinze em quinze dias, de acordo com minhas necessidades.

Quem usa lentes de contato sabe que para manejá-las é necessário ter unhas curtas. As minhas devem ser trocadas quinzenalmente. Sempre quando vou retirá-las é um problemão e acabo roendo tudo, já que preciso delas rentes para efetuar a operação. Eu tenho a sorte de ter unhas fáceis, não preciso de artifícios para vê-las crescer rapidamente. Quando elas estão crescidas posso fugir da misturinha e escolher uma cor, embora concorde que é menos elegante - mas quem consegue escapar à tentação?

Uma vez, em Nova York, me deu uma louca, deixei as malas no hotel e fui direto ao salão pintar minhas unhas de vermelho sangue. Fiz isso três vezes, numa viagem muito curta para tanto. Quando uma mulher que não tem esse hábito resolve pintar as unhas de vermelho, vem coisa por aí. Nos três lugares em que estive, fui atendida por orientais, parece que essa área pertence a elas. Uma coisa que achei curiosa foi que, assim que ela acabou de lixar e empurrar a cutícula (por lá não se usa mais remover a cutícula, vocês sabem porquê), abandonou minhas mãos na mesinha e deu a entender que eu deveria pagá-la. Achei que ela pudesse estar pensando que por ser brasileira eu ia fugir no final, sem remunerar seu trabalho. Custei a entender o óbvio: pegando o dinheiro antes de pintá-las eu estaria livre daquele malabarismo todo na hora de pagar. Bem bolado.

Olho pra elas. No momento estão sem esmalte e aparadas by my self. Prefiro assim, vejo como uma espécie de férias da vaidade. Quando elas estão crescidas, pintadas e lindas fico muito tempo a observá-las, verificando se o esmalte ainda está inteiro e como minhas mãos ficam tão mais bonitas. Assim como estão tenho tempo de pensar em coisas mais produtivas, digamos assim.

Por falar nisso, tenho quinze dias pra pensar em coisas úteis e talvez eu comece agor

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