Tema 025 - OS PECADOS CAPITAIS
BIOGRAFIA
A INVEJA - PORQUE ODEIO O VERISSIMO
Luís Augusto Marcelino

Vou plagiar o FHC e pedir aos meus sete leitores fiéis que esqueçam tudo o que já escrevi a respeito dos cronistas consagrados da nossa Literatura contemporânea. Especialmente sobre o Verissimo, a quem já dediquei discursos calorosos e empolgados nas mesas do Valadares - boteco tradicionalíssimo da Lapa paulista. Aliás, quando ele parou de escrever sua coluna semanal na revista Veja quase processei a publicação. Mas de um tempo pra cá não posso nem olhar para aquela cara sonsa do escritor gaúcho. Explico: meu ódio começou há alguns meses quando tive a infeliz idéia de lhe mandar um email para apresentar meu livro, cujo título é um plágio deslavado e, ao mesmo tempo, uma homenagem a sua obra "Comédias da Vida Privada". O maldito não se deu o trabalho de responder e então fiquei fulo da vida. E para completar meu repúdio, dei de cara com a crítica da Vivien Lendo, da Gazeta Mercantil, rasgando elogios ao autor. "Quando eu crescer quero ser Luis Fernando Verissimo. Pelo menos é o que todo cronista que se preza deveria almejar se tiver algum juízo." - ela inicia seu artigo. Há outros trechos onde despeja confetes e serpentinas à prosa do autor. Sabe o que é o pior de tudo? Ela está coberta de razão, para meu desespero. Morro de inveja do cara de bolacha. Toda vez que leio uma de suas crônicas sinto-me tentado a correr para o meu caderno espiral e rascunhar um texto ao seu estilo. Tento imitá-lo. Às vezes acho que é cópia mesmo, como se fosse uma xerox mal tirada. Porém, quando termino a última linha começa a brotar dentro de mim um remorso e um senso de ridículo incontroláveis. Não tem comparação. É pensar numa partida entre o Barcelona e o Ibis em pleno Santiago Barnabeu! Cada vez que isso acontece sinto uma tremenda vontade de jogar no lixo tudo o que já escrevi até hoje. Inclusive os originais de "A Comédia da Vida S/A" - meu livro concluído e não publicado, digamos assim.... por falta de interesse das editoras. Não as condeno, todavia. Coloco-me no lugar do avaliador que tem de ler os textos de um amador e de um monstro da Literatura brasileira. É de dar dó...

"Não dá para afirmar que tudo isso (as crônicas de Verissimo) seja só observação. Observar, todo mundo observa (...) O problema é transpor a ponte entre o que se vê e sente para o que os outros verão e sentirão (...) Verissimo "observa" com o ouvido interno, mais ou menos como os compositores que ouvem dentro de si a música antes de traduzi-la na partitura." Mais uma vez a Vivien está corretíssima. O cara faz isso mesmo, o que o torna cada vez mais inigualável. Lembro de um concurso literário que consistia em complementar um conto iniciado pelo também gaúcho Moacyr Scliar em nove fases. LFV ficou encarregado da conclusão. O desfecho que deu, costurando um enredo que, a certa altura do campeonato (digo, do concurso), tinha se perdido, foi de uma genialidade incomum. O cidadão é fera mesmo! E me faz lembrar o Romário: não gosto dele, mas só faz gol de placa!

Nunca fui metido com cartomantes, numerólogos, tarólogos ou coisa parecida. Mas sabe como é, né?... Todo brasileiro tem um pezinho no mundo esotérico. Vai ver meu problema esteja no nome. Também me chamo Luís. Com acento. O Luis sem acento faz cada vez mais sucesso. O Luís com acento só leva no assento. É, deve ser isso! O acento.

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