Tema 025 - OS PECADOS CAPITAIS
BIOGRAFIA
REGINALDO
Fred Leal

Reginaldo sentou-se em frente à TV. Apenas de cueca, assistia, impressionado, os eventos do dia. Já tinham lhe avisado no trabalho, mas ele relutou em acreditar. Teve que ver para comprovar.

O noticiário exibia a trágica notícia, e entre lágrimas, Reginaldo acendeu um cigarro. E outro. E outro. O choque ainda não havia passado, até que o telefone interrompeu sua cadeia de pensamentos.

- Alô?

- Reginaldo, é a Vera. Liguei pra saber como você está. Acabei de ver na TV...

- Não estou bem, Vera. Nada bem. Não sei o que faço. Mas obrigado por se preocupar...

- Calma Reginaldo...

Ele não ouviu a última frase da menina. Agora chorava copiosamente, e num acesso de raiva, puxou o fio do telefone. Não queria conversar. Não queria ouvir ninguém. Voltou para sua cama e mudou de canal. De nada adiantou. A mesma notícia se repetia em todas as emissoras.

Pensou em se matar. Reginaldo não acreditava que aquilo podia estar acontecendo. Levantou, foi até o escritório e sacou de sua gaveta a arma que já possuía há tantos anos. Apontou o cano para boca, mas sabia que não tinha coragem de fazê-lo. No entanto, o ato lhe havia iluminado. Perseguiria os culpados por tudo aquilo. E acabaria com eles, um por um. Iria para a cadeia, se fosse preciso. Mas se vingaria.

Voltou para seu quarto, vestiu-se. Cobriu-se com a jaqueta de couro marrom e na mesma hora deixou o apartamento. Suas mãos procuravam o maço de cigarros e a chave do carro enquanto escondiam no bolso a pistola carregada.

Na garagem do prédio, encontrou Ângela, que saía de seu carro correndo em direção ao elevador, as mãos mal cobrindo o rosto vermelho e molhado de lágrimas. Reginaldo conhecia sua dor, e num gesto brusco, interpôs seu carro no caminho da mulher.

- Vou fazer algo. Ainda não sei o quê. Ainda não sei como. Vem comigo.

Ângela era uma bela mulher. Devia ter quase trinta anos, embora não os aparentasse. Seus longos cabelos loiros eram apenas mais um dos adereços àquele rosto de boneca de porcelana. Assustada, ela hesitou. Mas foi atingida de súbito pela curiosidade, e entrou no carro, perguntando:

- Você tem um plano?

Reginaldo não sabia o que dizer. Acelerou o carro e partiu, derrubando as grandes lixeiras de plástico azul do prédio. "Como num filme de ação", pensou ele. E agora, acompanhado de Ângela e inspirado pelo ódio, seguia em direção aos Arcos da Lapa. As imagens da TV não saíam de sua cabeça.

Chegaram no local sem trocar uma palavra pelo caminho. As equipes de TV já estavam desmontadas e indo embora. Eles desceram do carro e trespassaram a pequena aglomeração como uma flecha. No centro do círculo, três pessoas. Três rostos pálidos. Os mesmos rostos que agora pouco se desculparam em cadeia nacional. "Foi um acidente", eles disseram.

O ódio ainda percorria seu sangue, e inundava os olhos do rapaz. Furiosamente, ele sacou a arma e atirou contra os três. Três disparos certeiros. O suficiente para que os policiais da cercania se aproximassem e o prendessem.

Ângela chorava enquanto Reginaldo era algemado. Mas um sorriso no rosto do rapaz a tranqüilizava. Ela sabia que ele fez o que devia ser feito. Reginaldo matara os culpados pela morte de seu ídolo. Dois pedreiros, que derrubaram uma parede da casa abandonada onde um casal transava, agora também eram vítimas. Assim como o travesti que conseguira escapar com vida do acidente. E Cauby Peixoto poderia descansar em paz, vingado.

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