Tema 025 - OS PECADOS CAPITAIS
BIOGRAFIA
A LÂMPADA
Fernando Zocca

Quando a cidade era menos povoada, conhecia-se quase todas as pessoas que residiam no local.

Eram bem definidas também as instituições. Assim o largo do mercado, as igrejas, os bancos e as pensões eram lugares comuns. Notória também a área do meretrício.

Afastada do centro, no bairro onde se mercadejava o sexo não tinha asfalto nas ruas. Não tinha calçadas e água e luz eram precárias. Na zona, havia o local onde habitavam as prostitutas com bom prestígio. Eram as mais novas e mais bonitas. Tinham o privilégio de ocupar as melhores moradas. As mais feias e velhas moravam em outro trecho conhecido como "inferninho". A promiscuidade, a pobreza e a sujeira predominavam.

Na década de setenta, quando os adolescentes da classe média baixa por lá aportavam podiam notar que logo ao cair da noite, ali no local menos favorecido, as residentes acendiam lâmpadas defronte suas portas. Serviam para destacar e individualizar o local. Elas se reuniam à espera de consumidores. Expunham dessa forma o único produto de que dispunham: o sexo.

Na azáfama que se formava de passantes sempre se destacava um grito mais proeminente:

- Vem cá benzinho. Vem fazer neném!

Mas nem todas conseguiam programas que lhes rendessem os caraminguás necessários para as despesas.

Depois de muita luta na Câmara Municipal e escorado em dados estatísticos o prefeito naquele tempo resolveu acabar com aquela pouca vergonha toda. Com o auxílio da imprensa, das entidades religiosas, filantrópicas e do judiciário, transformou-se o local em bairro de pessoas comuns.

Mas os historiadores não podiam resolver um problema que ainda cercava-se de dúvidas: o hábito das prostitutas de permanecerem defronte suas casas era comum a outros segmentos da sociedade ou era privilégio da mais antiga profissão do mundo?

Alguns queriam crer que o tal hábito era comum à população mais humilde, que indispondo de espaço suficiente nas suas casinhas, saía em busca de refrigério durante os momentos de calor mais sufocante.

Isso se pode constatar ainda nos dias atuais.

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