A
AVAREZA
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Fernando
Zocca
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Numa de minhas caminhadas pelo centro pude perceber que algumas pessoas diziam umas às outras: "Você vai morrer". Os bêbados desconjuntados, maltrapilhos e maltratados resmungando justificativas se reforçavam na manutenção daquelas vidas úmidas. Regados à cachaça, cerveja barata e idéias angustiantes punham-se quietos somente ante a cobrança de um pênalti do timaço. A ingesta de "cana" provinha de "tubos" repletos de aguardente ruim. Parece que ante a inevitável certeza, diziam-se uns aos outros a percepção nova e inusitada que os preocupava e que justificava seus comportamentos, buscando quem sabe uma satisfação ou uma minimização qualquer. Mas davam-se por felizes e satisfeitos quando o timão jogava. Pelas manhãs, a ressaca, o mau hálito e as congestões. Só voltava um tiquinho de alegria se lhes fosse lembrada a batalha que se daria logo à tardinha. Não se os poderia chamar de loucos mesmo que dissessem que: "estou com uma hepatite aqui no olho esquerdo". Os bracinhos finos, as perninhas secas e os barrigões avantajados indicavam hábitos perniciosos, pouco saudáveis. Mas todos se reuniam nas manhãs de outono, na praça, para aproveitarem aquele sol benevolente. O distanciamento das atividades econômicas e laborativas, o afastamento da convivência familiar, poderiam classificá-los como doentes mentais resultantes também do escracho social. Mas quem se importava com eles? Onde estavam as entidades filantrópicas e de assistência social? Onde se poderia achar aqueles que viviam de benefícios públicos e que teoricamente os teriam de reverter aos pobres? Sem medo de se incorrer no exagero poder-se-ia afirmar que tais entidades, associações e que tais, engajavam-se mais no combate aos que não comungavam com suas idéias errôneas do que cumprir com as funções definidas e determinadas pela lei. Os hospitais psiquiátricos mantidos por certas seitas tinham única e exclusivamente o condão de enriquecer os bolsos de seus proprietários, que atados nas tetas públicas surrupiavam das entidades governamentais fundos suficientes para a construção de verdadeiros impérios econômicos. E tudo às expensas dos pobres e coitados pinguços. Não era raro, não, encontrar-se entre diretores de clínicas psiquiátricas, acionistas de fábricas de aguardente. Ganhavam aqueles nobres senhores bem intencionados muito dinheiro pagos pelos cofres públicos. Na avareza, na negativa de se deixar circular o dinheiro, aqueles bons palestrantes, com seus evangelhos nas mãos, formavam fortunas imensas. É certo que o destino traçava suas rotas independente da origem das suas doutrinas. A quebra dos conglomerados econômicos formados por doações públicas também fazia parte da história. Era por isso que deveriam ter mais cuidado em jogar as pedras em quem não lhes aceitasse as idéias psicóticas com as quais manobravam seus crédulos. |
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