NO
ALTO DA MONTANHA HAVIA UM PUNHADO DE HOMENS E MULHERES E DENTRO DE CADA
UM HAVIA UM...
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Mairy
Sarmanho
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Dentro de cada um havia um anjo. Mesmo assim, todos achavam que se encontravam em perfeita solidão, naquela alta montanha distante do mar... E, dessa forma, pouco investiam em diálogos, comentários, afagos... Apenas ficavam em suas cavernas, observando o mar, em cima daquela imensa montanha cercada por desertos em todos os lados, esperando algo que nunca viria. Eram, ao todo, quinhentos e um homens e três mulheres. Os homens eram morenos, olhos negros como a noite, cabelos secos, pele queimada pelo sol que insistia em lançar longos açoites em seus corpos. Já as mulheres eram loiras e tinham olhos verdes, cabelos secos, pele queimada pelo sol que insistia em destruir suas diferenças. O tempo que passaram no alto da montanha observando o mar foi em vão. Os dois grupos (homens e mulheres) jamais se tocaram, nunca trocaram uma palavra de consolo e sequer procriaram. Rezavam todos os dias para que um imenso navio vindo de não se sabe onde chegasse e os carregasse dali para não se sabe onde. Foram envelhecendo, secando sob o calor do sol até serem sugados completamente pela morte. Nunca se encontraram, mesmo estando tão próximos... Não havia navio. O resto era apenas um imenso vazio coberto de vento. Eles haviam sido colocados ali para se encontrarem, se tocarem, se afagarem. Mas, dentro da própria crença, jamais iriam permitir semelhante coisa. Por isso definharam, seus corações secaram, suas almas se tornaram impermeáveis. Assim os anjos foram expulsos de cada um e os abandonaram, tristes e magoados, quase secos de esperança... |
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