EXEMPLO
DE VIDA
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Larissa
Schons
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Falar sobre Carpe Diem numa segunda-feira e num dia onde faleceu uma senhora que eu considerava como uma segunda avó seria meio difícil. Só não é pelo simples fato de ela ser o próprio espírito de felicidade e bondade. Muitas vezes reclamamos da vida e não damos o devido valor para o que ela nos oferece. Somente quando recebemos um impacto muito forte, seja por uma doença ou pela morte de alguém que amamos, é que começamos a enxergar que a vida está aí para ser aproveitada a cada segundo. Deixar sempre as coisas para amanhã é nos privar do que a vida nos oferece, é nos privar das oportunidades do presente. Sendo que somente hoje poderemos aproveitar a vida e ser felizes. Acreditar que podemos ser felizes amanhã é enganar a nós mesmos. É atitude ilusória. Palpáveis somente nos sonhos, no cinema, na literatura e no mundo virtual. Estou falando tudo isso porque a senhora na qual referi no início dessa crônica foi sem dúvida uma pessoa que soube aproveitar cada minuto de sua vida, foi uma pessoa feliz, foi um exemplo de vida. Como é gostoso lembrar das nossas viagens, dos nossos passeios, da sua fala sempre amiga, sempre amorosa e tão sábia. Me acolheu com os braços abertos sem dizer nada, o seu olhar já dizia tudo. Olhar doce, calmo, que transmitia paz e um carinho infinito. Sempre alegre, com espírito aventureiro, nem parecia ter os seus "enta" de idade. Ela me dizia que isso estava no sangue. Tinha orgulho de dizer que era carioca. Uma carioca catarinense ou, como ela, dizia uma carionense. Quando me visitou no Rio de Janeiro teve orgulho de me mostrar o centro da cidade e o local onde havia nascido. Foi com ela que andei a primeira vez de metrô. E foi com ela que tive uma das tardes mais agradáveis na Confeitaria Colombo. De volta a Florianópolis me recebeu com lágrimas nos olhos e um sorriso imenso. No mesmo dia me mandou uma cesta de empadinhas de queijo - que eu amava - e só fez um pedido: que eu lhe fizesse uma visita no outro dia. Os compromissos, os trabalhos e a vida agitada nos afastaram e muito, mas sempre que nos encontrávamos era uma alegria tremenda. Há três anos atrás, no aniversário da minha amiga (sua verdadeira neta), soube que ela estava com câncer. Me falou com muita naturalidade da sua doença, demonstrando uma vontade de viver e um espírito de superação incrível. De lá pra cá viveu as 24 horas de cada dia ajudando ainda mais os mais pobres e necessitados, aproveitando a vida ao máximo, viajando, curtindo as pessoas que amava, aconselhando e se enriquecendo ainda mais espiritualmente. Nem parecia que tinha uma doença que se espalhava pelo resto do corpo. Levava tudo isso na boa fé, na esperança e com muita força de superação. O câncer no fígado e nos seios conseguiu superar logo, com grande espanto dos médicos. Mas daí surgiu um novo foco no estômago e por mais força mental e entusiasmo de viver que tinha não pôde conter a sua fraqueza física. Por fim o corpo dominou a mente. E mesmo assim nos seus últimos dias, magrinha que só vendo, com a certeza que ia morrer dentro em breve, mantinha a mesma força e o entusiasmo de viver que a conduzia ali e além. Que a força de vida dessa senhora idosa lhe sirva de lição. Que nada, nada neste mundo é tão terrível e desestimulante que possa acabar com a pessoa que tem a felicidade dentro do coração. |
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