Carpe Diem, Carpe Diem, lembro sim, de um bom lugar para se aproveitar o dia ou pelo menos o esticar, Ushuaia. Dez horas da noite e o céu ainda está prá lá de claro. Imagino então na Terra Do Fogo, no Cabo de Horn. Viajei sim, por muitos lugares frios, escondidos da civilização, onde os dias eram realmente esticados mas, aproveitá-los não estava diretamente ligado ao tamanho do dia. Um  dia de inverno no Rio Grande Do  Sul, curto mas humanamente acalorado, é melhor aproveitado do que um no sul do sul.

Aproveitar o dia também pode ser acordar num domingo as seis da manhã para que as dez da noite demore mais para chegar. Mas pensando bem, de repente se eu dormir até as nove, poderei sonhar com a realização de meus desejos e daí terei aproveitado melhor o dia, mesmo se no mundo onírico. O tempo de utilização não está ligado ao saber aproveitar. E nem o mundo da imaginação pode ser o elo para fazer o dia ser importante para nós. Não a imaginação, não o ideal. Descobri que em um regime político destes que rondam a liberdade das pessoas, a carne mensal está restrita a 700 gramas, o salário encontra-se entre 5 e 23 dólares/mês, as casas não possuem outro dono senão o governo, o leite é proibido a partir dos sete anos de idade, as bibliotecas estão abarrotadas de livros específicos do regime e os poetas, amordaçados. Sim, em Cuba, fora o que os turistas conhecem, somados todos os anos de vida de uma pessoa, sequer chega perto de um dia de inverno bem aproveitado em Porto Alegre.

Carpe Diem para quem sobreviveu à um enfarto é cada segundo após. Aproveitar o dia é atemporal, não é geográfico, não é tecnológico. Permite a fantasia, o fato, a ação, tudo.  Cada criança, na inconsciência do tempo, transforma o dia em muitos momentos válidos.  Não adianta conhecer o sol da meia noite e esquecer o sorriso trancado a sete chaves. Melhor seria ver o entardecer às 17 horas sentindo o perfume dos sinamomos e o toque amigo da brisa outonal.