ARANHA
DEBAIXO DA MESA
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Rosi
Luna
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As falas eram repetitivas, como o movimento de um funcionário em linha de montagem de uma fábrica de peças de automóvel. Mesma rotina, tomava um cafézinho preparado pelo boy e logo cedo o telefone não dava mais sossego. - Galeria Paralela, bom dia. Luana era o tipo de funcionária que desempenhava bem suas funções, delicada e atenciosa com os clientes tinha um segredo guardado, aliás tinha dois. Um segredo amoroso e um profissional. Ela trabalhava com Raul Bertolli, com dois ll que era um escultor muito talentoso e que já estava sendo comparado com os grandes mestres da escultura mundial. Cada vez que ela via o Raul moldando uma peça, um frio percorria todo o seu corpinho frágil. Ele tinha umas mãos que deslizavam e quando não estava ocupada com todo o trabalho administrativo da Galeria, Luana ficava a sonhar como jacaré com os olhos abertos. Um dia resolveu ir numa cartomante e mesmo sem querer acreditar em nada que aquela mulher lhe disse, não conseguia esquecer a última frase da cartomante. - Você vai gostar de um homem que tem uma ligação forte com a lua. Logo que ouviu a frase, não conseguiu estabelecer nenhuma ligação com seu amado, que só tinha olhos para as estatuetas que produzia. Foi de tarde, no intervalo entre um fax e outro, que escreveu o nome de Raul e logo tomou um susto, quando conseguiu matar a charada. Raul ao contrário era Luar, era isso, era ele. Como a cartomante tinha dito um homem que tivesse uma relação com a lua, mais do que isso, só ele sendo astronauta. Luana fazia escondido aulas de moldagem e queria mostrar suas pequeninas obras pra ele. Estava tão aluada ultimammente, não sabia mais se queria ser uma escultora ou se gostava de fato dele como homem ou como profissional. Era tudo tão misturado. Raul visitava clientes, as vezes até em chalés fora da cidade, e foi ai que Luana teve a idéia do encontro na cabana da estrada do rio. Ela sabia que ele gostava de pescar, ia dar tudo certo. Marcou na agenda como se fosse um compromisso de trabalho, colocou o mapa com todas as referências e escreveu oito horas. Era sexta-feira e naquele dia a Galeria iria fechar cedo. Já em casa, arrumou a mochila correndo, tomou banho, vestiu lingerie especial de noites de amor, e correu para a cabana que conhecia tanto, pois tinha ido pescar durante a infância toda em companhia do Tio Berto. As horas foram passando e nada do seu luar particular, nem sinal de Raul. Luana começou a se apavorar viu uma sombra e achou que era uma aranha enorme, depois foi a vez dos insetos começarem a dar o ar da graça. E aquela teia lá no canto começou a balançar com o vento, tudo foi ficando tenebroso. Resolveu tomar um chá pra acalmar e abriu um livro antigo todo amarelado e foi assim que adormeceu na poltrona. Logo cedo, com uma pontualidade britânica, as oito horas da manhã chega Raul. Ele abre um sorriso e fala. - Lu você sempre pensa em tudo né, sabe que gostei desse seu convite surpresa logo cedo pra pescar, estava mesmo precisando. Nesse momento Luana lembrou que marcou oito horas e claro que só podia ser da manhã. Foram pescar e o dia transcorreu maravilhoso. Quando voltaram para a cabana, já estavam bem íntimos e trocando uns carinhos com as mãos com cheiro de peixe. Foi quando ele fêz a célebre pergunta. - Sabe cozinhar? Luana respondeu rápido. - Não. Mas sei dar em cima da mesa. E foi ali sem luar nenhum, sem cheiro de perfume francês, em cima da mesa, que Raul pegou no seu corpo como se estivesse moldando uma estatueta. E as aranhas tremeram debaixo da mesa e Luana descobriu que as cartomantes às vezes falam a verdade. Ninguém acreditaria que ela amou um luar ou seria um Raul, e que ela teve uma lua sob a mesa. E luou luou luou... lua de mel. |
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