PRESENTE
DA ARANHA
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Felipe
de Paula Souza
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Sábado à noite, estava eu sentado tranqüilamente em meu sofá assistindo um filme na televisão. Em um determinado instante comecei a sentir um cheiro extremamente desagradável. Não, não é isso, meu caro leitor! Este cronista que lhe escreve não sofre de gases. Era um cheiro diferente. Levantei e investiguei a sala. Cheirei na direção da janela para checar se o cheiro vinha de fora, olhei debaixo do tênis, procurei pelos cantos da sala e nada. Só então percebi que se tratava de um percevejo, daqueles mal-cheirosos pra cacete que estava no meu pescoço. Espantei-o, ele saiu voando e eu saí perseguindo o infeliz inseto. Catei um chinelo que estava no canto da sala e desferi diversos golpes que cortavam o ar, mas não chegavam perto do bichinho. A cena deveria ser um deleite para qualquer espectador afortunado que se divertiria com minha ridícula perseguição ao perça. (É! É perça mesmo! Após a convivência fui ficando íntimo do pequeno). Por sorte ninguém viu a cena, já que apenas eu e o percevejo estávamos na sala. Quer dizer, quase ninguém viu... Seguia eu desferindo (tentativas de) golpes no inseto e o desgraçado fugia habilmente de meu chinelo. Lá pelo quadragésimo nono golpe o sujeitinho parou no ar. Ficou preso em uma teia de aranha próxima da lâmpada. Sorri e pensei: -He, he...se deu mal amiguinho! Coloquei o chinelo no chão e, ao levantar a cabeça, pude dar mais um sorriso: a dona da teia se aproximava de sua vítima indefesa. A pequena aranha se aproximava do percevejo. Pequena mesmo! Ela deveria ser umas cinco vezes menor do que sua vítima. Porém, a vítima estava enroscada em uma teia mortal. Fugir dali? Mais fácil seria escapar de Alcatraz. Olhei para o percevejo e disse: Entrou na casa errada, meu amigo! Eu tenho meus aliados...a falta de limpeza, por exemplo! A aranha se aproximava lentamente e eu fiquei ali, observando o trabalho do predador. Confesso que cheguei a imaginar-me no lugar do percevejo! Imagine estar preso em uma teia e quanto mais você se debate mais você se prende. Seu predador cada vez mais perto...a sua morte vem chegando trazida por oito hábeis pernas. (São oito, não é? Nunca fui bom em Biologia!) Fiquei ali, de pé no meio da sala, olhando para cima, alguns bons minutos a contemplar, ao vivo, o funcionamento das leis da natureza. Fiquei ali, admirado com a habilidade da aranha em amarrar sua vítima. Fiquei ali... porém, após algum tempo, uma dorzinha chata começou a atacar meu pescoço. Resolvi voltar a meu filme e sentei no sofá, que fica logo abaixo da teia. Após uns cinco minutos, senti algo cair no meu colo. Um pequeno pacotinho, muito bem amarrado. Era o percevejo. A aranha deve ter acompanhado toda minha perseguição ao inseto e resolveu mandar sua colaboração. Só faltou um bilhetinho acompanhando: - Bom apetite! Gente fina esta aranha! Bem pessoal, vou parando por aqui. Está na hora de eu entregar umas mosquinhas que peguei para minha nova amiga. Pode rir, meu caro leitor! Mas acho que não custa nada retribuir um favor de uma amiga, não é? E se amanhã eu precisar dela? Pelo menos fico no crédito! |
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