O
DRAMA DE UMA QUASE ATRIZ
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Pedro
Feitosa
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Desde cedo Márcia já demonstrava interesse pela arte, preferia ir ao museu que ficava em frente a sua casa a brincar com suas vizinhas de bonecas. Ela era uma menina muito meiga e madura (apesar de sua pouca idade). Foi quando seus pais resolveram colocá-la na aula de balé clássico. No começo a menina gostou muito da idéia, pois as apresentações de final de ano eram no melhor teatro da cidade. Ela sempre sonhara em pisar no palco daquele teatro, sua mãe a levara algumas vezes para assistir algumas peças de teatro. Logo nas primeiras aulas fez amizade com as meninas, Márcia era uma menina bastante extrovertida, não tinha problemas para fazer amigos, porém tinha muita dificuldade para seguir os movimentos que a professora fazia na aula. E assim os dias foram se passando, a cada aula Márcia continuava na mesma (vocês pensaram que ela melhorava, né?). Chegou o final do ano, novembro. Era a hora da professora escolher as bailarinas que iriam participar da apresentação anual da academia, naquele ano o título era A Floresta Encantada. Como de costume, as melhores bailarinas ficavam com o melhor papel, naquele ano não iria ser diferente; Márcia ficou com o papel de abelha, talvez por ser meio gordinha . O seu papel era apenas chegar perto da Rosi (que estava fazendo o papel de flor) dar uma volta em redor e dar um sorriso. Apesar disso, Márcia estava animada; faltavam poucos dias para sua estréia, mal a menina conseguia dormir a noite. O dia chegou era uma quarta-feira, Márcia chegou cedo no teatro, pois a professora gostaria de fazer um último ensaio com as meninas. No final do ensaio a costureira chegou trazendo as roupas que as meninas iriam usar na apresentação. A roupa de abelha era a última do cabide. Márcia num sentimento de emoção e excitação vestiu seu figurino de abelha, a roupa ficou muito apertada mas a menina não se incomodou com isso. Chegou a hora dos alongamentos finais, a menina ainda fascinada com a idéia de pisar no palco foi a primeira a fazer. O silêncio da sala fora quebrado pelo choro da menina, rasgara a fantasia num dos exercícios. A apresentação começou e a flor não recebeu a sua tão ilustre abelha. A mãe de Márcia a tirou do curso de balé. Muitos anos se passaram, agora nossa personagem está no final do primeiro grau, adolescência. Uma turma de amigos se reune para participar de um concurso de teatro da escola, a peça que irão representar é do Sítio do Pica Pau Amarelo, chamada O Anjinho da Asa Quebrada. Márcia é eleita a Narizinho. Apesar de não estar muito animada com a idéia decorou toda a sua parte e suas marcações. Num dos ensaios foi um dos diretores de arte do teatro, Adalberto M., para dar algumas dicas aos meninos e meninas. Depois de alguns ensaios chegou o dia do concurso, a peça de Márcia seria a terceira a se apresentar. O nervosismo tomou conta de todo o elenco. A peça começou. Superou a expectativa de todos, foi a vencedora. O prêmio era se apresentar no teatro da cidade, os atores vibraram. Porém mais uma vez o destino se encarregou de adiar o sonho de Márcia, houve um conflito entre a organização do concurso e os diretores do teatro. O prêmio foi substituído por uma viagem à Serra. Mais uma frustração na vida de Márcia. Mais alguns anos passam, agora com 19 anos, Márcia faz vestibular para artes cênicas. Não passou. Porém, ela não desiste da idéia de ser atriz, está decidida que esse é o grande sonho de sua vida. Márcia entra para uma oficina de teatro. Lá faz grandes amigos, conhece seu primeiro namorado, Paulo. Cada vez mais vai se interessando pelo curso, e pelo namoro. No final do curso, os melhores atores serão escolhidos para representar numa peça chamada Folhas ao Vento no teatro da cidade. Essa é a grande chance de Márcia realizar seu sonho. Porém o diretor não a escolheu. Márcia ficou muito triste, mas não esqueceu de cumprimentar Rosi pelo papel. No mesmo dia da estréia de Folhas ao Vento, toca o telefone na casa de Márcia. Era o pai de Rosi dizendo que a filha passara a noite com uma forte febre e que não poderia participar da peça. Márcia foi ao teatro avisar ao diretor. O papel era seu. Minutos antes de entrar em cena Márcia chorou. Com uma das mãos segurando a barriga falsa de grávida, Márcia entrou no palco. Entrou muda e saiu calada. Talvez para muitos esse personagem não representava nada na trama, mas naqueles segundos em que pisou no chão do palco, agora velho e opaco, Márcia pode sentir a emoção de ser uma grande atriz. Assim acaba a história de uma quase bailarina e atriz. |
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