Às vezes, o destino escolhido passa de raspão. Até chega perto, ameaça emplacar, mas não fica. Segue seu caminho desviando por um triz. Bate na trave. Isso acontece com todo mundo. É aquele quase acidente, o namoro desfeito com o cara que depois se mostrou um safado ou o apuro que por pouco não acontece.

A Cristina, por exemplo, que trabalha comigo, não conquistou os céus por questão de centímetros. Como eu, ela ama os aviões desde a infância. E os amores levam aos sonhos. Pois seu sonho era trabalhar a milhares de pés de distância da terra. Depois que sua prima Beatriz virou comissária de bordo, então, o sonho ganhou as alturas: queria porque queria ser tripulante em vôo comercial.

Quando completou 18 anos, idade limite para postular um emprego na área, fez pouso no curso de preparação, decolando logo em seguida para os exames na VASP. Passou em todos os testes, menos em um: a altura. A Cris tem 1,62 e a medida mínima aceitável pela empresa era 1,67.

Deveriam ter avisado antes, lembra ela com tristeza. Mas a vida é assim.

Na verdade, penso que foi bom. Porque a Cris hoje trabalha em operação de rodovia. Não serve bebidas ou salgadinhos, mas trabalha para salvar muitas vidas aqui mesmo, na terra. Ela é uma das operadoras do centro de controle de informações da concessionária que administra a Via Dutra.

Os dados coletados por ela são fundamentais para as pesquisas que vão indicar ações necessárias para detectar pontos críticos de acidentes e para orientar os motoristas em casos de acidentes, más condições de visibilidade e eventuais interdições de pistas.

Azar da Vasp. Sorte de quem tem medo de avião e prefere fazer a ponte Rio-São Paulo de carro ou de ônibus. Porque, lá no CCI, ao lado de outros profissionais, há uma quase aeromoça que, feito anjo, zela pela segurança de quem viaja pela Dutra. Por 5 centímetros, perdeu a VASP, mas ganharam os milhares de usuários que trafegam pela rodovia.