Nós internautas-escritores, mensageiros, poeteiros, macumbeiros, esotéricos, ateus e atoas temos uma estranha semelhança. Fazemos mais amigos virtuais do que podemos manter, o que nos torna, além de poligâmicos (fraternalmente falando e acho isso ótimo e delicioso!), um tanto quanto alheios, senão ausentes de vez em quando para com esses amigos.  Isso me chateia muito, quando, por exemplo, abro a caixa de e-mail disposta (tanto quanto para com a faxina do escritório, no sentido mais verdadeiro que isso possa ter, pois por mais incrível que possa parecer, sou uma candidata à escritora que adora fazer faxina. No momento apenas no escritório, que também é candidato. À SOHO.) a responder à todas as duzentas e trinta e quatro mensagens, que estão desde ontem esperando resposta, e imediatamente mais oitenta mensagens deslizam pela caixa branca, e a felicidade toma conta de minha alma, por receber tantos ois! Fico realmente esfuziante! E por isso mesmo um tanto quanto apática por saber da impossibilidade de responder a todos aqueles e-mails... Já houve dias em que sonhei poder parar o mundo. Primeiro porque meu guarda-roupa está totalmente desorganizado. Não sei mais quantas e quais calças tenho, onde andam minhas regatas à ‘la Adriane Galisteu’, se tenho ainda aquele blazer que tinha há três anos atrás, e finalmente se meu modess acabou ou não. Justo eu que era organizada quando morava em minha casa. Agora que voltei para a casa de meus pais, sou exatamente o que nunca fui: um caos material. A cabeça que era a titular do caos, - Coluna diária, em três doses transbordantes de caos! Um luxo psicológico! – melhorou... Gozado. Em compensação minha desorganização material – exceto a faxina, que não abro mão, apesar do efeito dela durar apenas um dia e meio, sempre – se estendeu até a web e não consigo mais deixar minha correspondência em dia. Isso é coisa do passado, definitivamente. Coisa da época inóspita de webdesign e só. Webdesigner só responde e-mail de servidor, alguns clientes que reclamam, porque sua conta POP 3 não funciona, e spam. Ah, e-mails de escolas de treinamento, ou transferência de tecnologia, como eles chamam aqueles cursos “fast food” que eles ministram (que é pior que outro tipo de fast food que conheço: aquele que quando você vai, já foi... sabe?) são as mensagens mais recebidas por um webdesigner ativo, que feliz fica ao pensar: eles lembraram de mim!

Isso me lembra o personagem verde de três olhinhos de Toy Story, quando capturado pelo Garra, cai nas mãos do terrível Cid, o nazista do reino plástico, e jogado na boca do cão, que se prestarem bastante atenção, pode muito bem ser o Mussolini (pela culpa sem culpa, o instinto... esse superego animalesco, porém sem responsabilidade intelectual) e antes de ser literalmente mastigado, olha para os amigos e diz, candidamente:

- É o nirvana... O portal místico me aguarda...

E é imediatamente abocanhado pelo Mussolini do Cid. Neo Cid. Parece nome de inseticida. Se é que não é...

Assim são os webdesigners. Como o bonequinho verde de três olhinhos, duas anteninhas e crença de que é importante. Só porque recebeu e-mail da macromedia, com os novos lançamentos de softwares tão sofisticados, que fazem jus ao preço que custam. Bons tempos de falta de responsabilidade. Quando não responder à um e-mail de escola ou centro de treinamento, (o que ao meu ver é a mesma coisa, mas eles teimam em dizer o contrário) não significava perder um amigo... Hoje recebo e-mails cheios de carinho e afeto, fico feliz por isso, e não posso responde-los. Nem todos e muito menos de uma só vez, o que faz com que você me envie um e-mail hoje, e corra o risco de receber a resposta daqui a duas, três semanas. O que não significa que eu esteja feliz. Ao contrário. O problema é comigo. Sou muito sociável e faço mais amigos do que eu possa me comunicar ao mesmo tempo, (o que seria fantástico!) o que acaba gerando a maior confusão, a princípio, porque não me lembro se falei do último livro de contos com o fulano, o sicrano ou o beltrano, e quando me enviam um e-mail com a mensagem “segue o documento que você me pediu”, não me lembro mais para que havia pedido, o que, até abrir o anexo. Ahhnnn...

Tempos poligâmicos e modernos. Foi-se o tempo da marital amizade... Hoje os dias são mais rápidos e, no entanto mais preenchidos. Porém mais confusos.

Mas estão mais deliciosos do que nunca!