INFINITO
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Luís
Valise
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O QUE FOI ISSO? Até ele se assustou com o sobressalto da jovem sentada ao seu lado. Seguiu seu olhar até a luz que piscava e, novamente calmo, explicou: - É apenas o aviso de apertar cintos. Provavelmente uma pequena turbulência, fique calma. Notou suas mão lívidas agarrando fortemente os braços da poltrona. Primeira vez que você voa? Ela enrubesceu e balançou a cabeça confirmando. Tudo bem, você acostuma. Ao entrar no avião apenas percebera a figura miúda sentada no canto. Agora notava que ela era encantadora e que estava assustada. Ótimo, pensou, a viagem até Miami seria menos demorada. Depois pegaria uma conexão para Aspen, mas depois é depois. O carrinho de bebidas parou, a aeromoça sorriu. Ele pediu um Red Label, gelo e água. Ela não tirava os olhos da janela, lá fora tudo escuro. Ele tocou-lhe de leve o cotovelo, ela olhou e vacilou. Um drinque lhe faria bem. Sorrindo pela primeira vez ela então pediu uma taça de vinho branco seco. Ele pensou num tin-tin mas se sentiu ridículo. Foi ela quem começou: - Você vai sempre para Miami? Ele, vendo o céu em seus olhos muito azuis: - Na verdade estou indo para Aspen. Miami é só escala. Vocês vão pensar que o autor exagera, mas foi assim que aconteceu: ela arregalou os olhos elizabethaylorianos: - NÃO!! Eu também vou pra lá!! A súbita lembrança da esposa a esperá-lo em Aspen passou como uma nuvem negra e rápida por seu pensamento. Aqui em cima o céu está azul. Em Aspen estará nublado, mas depois é depois. Conversavam animados,sabiam que iam para o mesmo lugar; nenhum dizia quem os esperava lá. Nem queriam pensar nisso. Queriam curtir muito enquanto o céu estava azul. Outro sinal de apertar cintos e ela agarrou sua mão, as unhas cuidadas marcando-lhe a pele. Ele ficou quieto sentindo o toque, a maciez. A turbulência passou, a conversa seguiu, as mão já entrelaçadas. Janta, licores, todos os assuntos em voz baixa, menos a chegada em Aspen. Em Miami aguardaram pelo vôo de conexão numa daquelas salas de trânsito sem nenhum conforto. Pela grande janela envidraçada ele explicava-lhe detalhes de pousos e decolagens (ah!, o perfume dos seus cabelos). Ela fingia prestar atenção em trens de pouso e flaps (ah! esse furinho no queixo). As horas passavam lamentavelmente rápidas. O vôo agora seria diurno, ela poderia desfrutar a paisagem, mas durante todo o tempo não olhou uma vez sequer para fora. A voz metálica do comandante informou que estavam em procedimento de descida, favor apertarem os cintos. Ela nem viu a luz piscar. Apertaram-se mais as mãos, os olhos querendo adivinhar o depois. Depois, em São Paulo, seria depois. O único beijo (inesquecível) antes de Aspen, e o avião bateu no topo da montanha. |
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