Tema 016 - COMO EVITAR UM HOMEM NU
BIOGRAFIA
NU AUTOMÁTICO
Beto Muniz

Todos os meses eu vou ao banco com um calhamaço de contas a pagar. Nunca autorizei o débito automático de minhas contas de telefone, água, luz, gás, condomínio e outras. Também não gosto de pagá-las em casas lotéricas, onde sai um cupom dizendo que a conta está paga. É que detesto inovações com meus compromissos e aprecio a autenticação marcada no rodapé das faturas domésticas, é o "pagar na boca do caixa". Aliás, fechei minha conta num desses bancos metidos a modernos assim que ele se recusou a autenticar minhas contas. Devo reconhecer, no entanto, que o banco não perdeu muita coisa com minha saída. Sou chato e pobre! O saldo médio não pagava nem a emissão do extrato mensal.

Mas voltando à história boa, dia vinte do mês eu fui ao meu atual endereço bancário saldar os débitos mensais. Logo na entrada fui barrado pela porta automática. Pacientemente (como acontece a cada trinta dias) tirei meu celular e chaves e depositei na caixinha de acrílico ao lado da porta giratória. Nisso, duas garotas bonitinhas chegaram e esperaram a vez de serem barradas. No que voltei para liberar minha passagem, pisei no pé de uma das mocinhas. Desculpei-me e recebi um sorriso branco gelo. Fui liberado automaticamente.

Dentro da agência, uma fila serpenteava entre pilastras e cartazes. Gosto disso, longas filas são excelentes para uma reflexão sobre o ser humano e observação do gestual que compõe essa espécie. Foi observando que cheguei a conclusão de que os velhinhos adoram ir ao banco. Acho que pagam uma conta a cada dia só pelo prazer de serem atendidos preferencialmente. Preferência que irrita as balzaquianas e os motoboys. Sim! As mulheres de trinta são as mais impacientes nas filas e os motoboys são os que mais se irritam com esse atendimento privilegiado dos idosos... Enfim, estava a menos de dez minutos na fila quando notei que um rapaz era barrado pela terceira vez na porta giratória:

- Moedas, chaveiro, BIP, algum metal? - perguntou o segurança.

- Não tenho mais nada, tirei tudo.

- A porta não trava sem a presença de metais.

- O cinto? - em dúvida o rapaz mostrou a fivela. Enorme.

- Pode ser...

Ele retirou o cinto e colocou na caixa de acrílico. Retornou e tentou entrar novamente. Foi barrado.

- PORRA! - o sujeito aloprou.

- Tenha calma senhor... Não esqueceu nada nos bolsos traseiros?

- Não tem nada, nem papel, nem metal - levantou a camiseta até o pescoço e virou-se em 360 graus.

A mocinha bonitinha cochichou com a amiga:

- Uau! Barriguinha de tanquinho!

- Eu lavaria minha calcinha nesse tanquinho...

Olhei espantado para trás, indicando que ouvira o comentário. A abusada, constrangida, escondeu o rosto no ombro da amiga que me estampou, novamente, o seu sorriso branco gelo. Eu devolvi um branco amarelado imaginando o comentário delas se vissem a minha barriguinha, de formato ovalado, nua.

E o clima esquentava na entrada:

- Aguarde um instante para que esses clientes saiam. - o segurança solicitava cooperação extra ao barrado que agora estava sem camisa no vão da porta.

- O caralho! Se eu não entro ninguém sai!

- Senhor, por favor...

- Por favor, o escambau! Não tenho nem um objeto metálico e essa porta está travando. É sacanagem tua, tenho certeza!

- Senhor, a porta é automática. Não tem nada em suas meias? Levante a barra da calça.

- Você controla essa geringonça. Não tenho nada nas meias, nem fora das meias.

- O senhor está portando algum metal, a porta não trava sem a presença de metais...

- Não tenho mais nada. NADA! Está entendendo? Quando eu digo nada, quero dizer porra nenhuma!

Ato contínuo tirou sapatos, meias e arriou as calças. Para constrangimento do segurança e deleite das mocinhas (bonitinhas) e das velhinhas com atendimento preferencial, mostrou que realmente não portava nenhum objeto de metal. Foi ovacionado e vaiado até que o gerente se meteu na história e liberou seu ingresso no estabelecimento bancário. Entrou na fila esbravejando enquanto se recompunha.

No caixa, finalmente sendo atendido, perguntei como fazer para colocar minhas contas em débito automático. Não pretendo assistir essa modalidade de strip-tease masculino quando tiver que pagar minhas contas dia vinte do mês que vem.

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