COMPLICAÇÕES
NO PARTO
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Beto
Muniz
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Mesmo quando não tenho nada a dizer, sento diante do teclado e tento exercitar os neurônios e a escrita. Às vezes surge alguma idéia, ela é postada na tela e em seguida vai para os meus arquivos. Geralmente, quando sento diante do monitor, já tenho em mente o que quero escrever, a idéia vem sendo curtida desde a manhã e na calada da noite transfiro para o Word. Para quem não conhece o Word, explico: É um editor de texto com uma infinidade de funções direcionadas a facilitar o trabalho desse que vos escreve. Bem, pelo menos deveria. Acontece que o Word vem acompanhado de mais quatro ou cinco programas, e esse conjunto de software ganha o nome de Office. Todo mundo compra o pacote fechado, o Office, mas tenho certeza que oitenta por cento dos clientes usam apenas o Word, outros quinze por cento usam também, o PowerPoint (irmão do Word) e os cinco por cento restantes não usam software algum desse pacote. Uma maravilha esse sistema de venda casada. Criação do Bill Gates, aquele do windows. Após instalar o software no micro, o que demanda boa dose de coragem e tempo, além de muitos mega bites disponíveis no seu disco rígido (não se preocupe, até aqui é tudo automático, você só tem que colocar o cd-rom e aguardar), você pode clicar no ícone recém criado que uma tela em branco, como se fosse uma folha de papel, surge do nada diante dos teus olhos. É o inicio de uma bela e maravilhosa amizade. Para começar bem essa camaradagem, é preciso escolher a tipologia, ou melhor, o modelo da letra. Nem pense que é complicado, é simples. Você deve clicar na função FORMATAR (ali, na barra de ferramentas) depois escolher o comando FONTE, e então uma janela de diálogo se abre e outras infinidades de opções surgem: Tamanho, fonte, estilo da fonte, sublinhado, tachado, itálico... Se o sujeito estiver em dúvida, quanto às convicções literárias, acaba por desistir e não escreve nada, a idéia genial para o conto acaba por morrer sufocada no emaranhado de opções. Mas se o candidato persistir, acaba por definir esses detalhes que só influenciam no visual do texto (mais nada), e começa a longa viagem rumo ao céu dos escritores. A longa viagem passa pelas ferramentas; ARQUIVO, EDITAR, EXIBIR, INSERIR, FORMATAR (esse você já conhece), FERRAMENTAS, TABELA, JANELA e AJUDA. Pronto você acaba de ser apresentado para a Barra de Ferramentas Padrão do Word. Não é mole não! Só não pense que agora a coisa melhorou. Também não piorou. Só complicou. Cada função esconde dezenas de comandos em seu bojo. O FORMATAR, que você pensava conhecer tão bem esconde nada mais que 14 (eu digitei os algarismos um e quatro, ou seja, quatorze) comandos. Beleza. Dominar quatorze comandos é fácil! Ótimo que alguém pense assim, porque dentro de cada comando pode vir outras dezenas de opções embutidas. Eu já desisti de aprender noventa por cento dos serviços oferecidos dentro dessas ferramentas. Acionando o comando FONTE, você se depara com 28 (vinte e oito) subcomandos de uso. Um deles é o que escolhe a TIPOLOGIA a ser usada. Dentro dele encontrei 74 (setenta e quatro) fontes diferentes. Antes que você considere esse texto uma apologia à renúncia em escrever, esclareço que não é nada disso, quero que você seja persistente, escreva, supere todas as dificuldades e adentre ao maravilhoso mundo da criação literária, mas eu aviso que verifiquei, fiquei horas diante do micro chafurdando nos bastidores do Word (só do Word), e descobri que você pode, além de formatar seus textos de acordo com suas necessidades, formatar o software de acordo com suas preferências. Só vai ter que escolher entre 18 (dezoito) barras de ferramentas diferentes, num total de 1033 comandos. Um mil e trinta e três comandos com suas varias opções de subcomandos... Opções que não consegui somar, desculpe. Sentiu o drama de um escritor? Cada texto é um parto! O sujeito cheio de idéias (entupido mesmo) senta diante do teclado e começa a preparar seu livro. Logo de cara encontra essa multiplicação automática de escolhas. Desvia o pensamento e perde um terço da criatividade, e um quarto do tempo disponível, só para formatar o texto de acordo com suas necessidades. Isso cansa! Tanto cansa que, na maioria das vezes, o sujeito escreve uma crônica qualquer, no lugar do conto que imaginava, e vai para a rede. Estressado. Quem perde é o leitor! E nem adianta recorrer à função AJUDA disponível lá na barra de ferramentas. Essa função que deveria esclarecer metade de nossas duvidas (pelo menos metade), esconde mais 15 (quantos?) comandos em seu interior. É só clicar! |
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