Tema 013 - CARNAVAL
BIOGRAFIA
LSD
Viviane Alberto

Afinal, de que lado você está?

Nesse momento, eu estou aqui, brincando de letra espalhada na tela, do lado de cá.

Você, por sua vez, provavelmente sentado, segura seu queixo, enquanto me segue, até o pontinho, do lado de lá.

Veja bem, é uma questão de ponto de vista. Depende de quem vê. E, principalmente, se quer ver. Vamos ver como é que vai terminar. Eu escrevo e você lê. Acompanha, gostando ou não, só pra ver no que vai dar. A que ponto chega a verborragia.

Pra mim, esse momento é uma janela. Uma porta, um espaço. Onde eu fecho a caixa que Pandora  abriu e fico olhando tudo em volta girar.

Pra mim é a hora da verdade, um minuto de silêncio, uma epifânia, uma eclosão.

É onde eu deixo correr solto o que tenho de mais sinistro, mais doido, esquisito. É quando te mostro meu lado infame, esdrúxulo, mesquinho.

É quando dou risada sozinha, quando choro pro monitor, babo no mouse.

É a hora em que converso com você. Alucinadamente, silenciosamente. No arranjo lisérgico que as palavras arranjam, nessa dança esquisita que a cuca faz.

É quando tudo que vier é lucro. É quando a mocinha beija a boca do herói. Morde a orelha dele.

É o momento em que minto descaradamente. É quando me lembro do passado, de repente. Quando eu invento o que não vivi.

É quando busco o quadrado da raiz ao cubo. Quando o foguete explode e a gente aplaude as figuras que a fumaça faz.

O momento em que se abre a cortina. A vergonha passa, a solidão termina. Porque agora somos nós dois, eu + você.

É muito sutil esse breve momento. É o pulo do milho na chapa quente, o estouro da pipoca vestida de noiva.

Esse nosso amor de clique, quando você bate o olho e diz, ou melhor, decide, se gosta ou não de mim.

Mas não é sempre assim, sempre igual. Porque tem dias em que sou o marinheiro que gosta de espinafre e sempre venço no final. Mas também posso acordar bandido e ter minha cabeça pendurada na London Bridge, por ordem do rei.

Eu só mostro, só começo, insinuo. Do fio da minha meada, você tece o tapete. E depois decide se ele vai voar ou virar capacho. Só você pode saber. Só você.

Vai ver que no fundo, isso é uma declaração de amor. Eu aqui, presa no aquário do monitor, gritando binariamente que te amo. Fazendo desse espaço sem dono nem fronteira meu caderno de caligrafia, onde treino minha letra redondinha.

Então, faz assim: continua lendo, vai. Se precisar, você me corrige. Ou discorda. Ou discute. Diz que não é nada disso e que eu deveria comer menos carboidratos no jantar. Mas diz.

Diga alguma coisa, sempre. Porque palavras são criaturas (sim!) que se ressentem. Na falta do eco, da resposta, elas vão diminuindo de volume. A caixa alta vai perdendo a pose e vai sumindo, sumindo. E, o que era proparoxítona, vira ponto final.
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