PLANALTO
MUDO
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Beto
Muniz
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Acho que nunca gostei de carnaval, apesar de em meu currículo constar uma passagem pela avenida Tiradentes. Mas devo avisar que o carnaval naquela época (1983) era mais tranqüilo, uma brincadeira com maior segurança. Para todos terem uma idéia, os desfiles eram realizados em frente ao Batalhão Tobias Aguiar. Carnaval era sinônimo de cento e vinte horas de suor e alegria com a tranqüilidade assegurada pela ROTA (Foi o Maluf quem fez?). Nesse único contato com a folia, consegui ver a escola de samba Rosas de Ouro, algumas mulatas lindas e muitos tamborins. Vi pela primeira vez, uma cuíca de perto. Cheguei a tocar nela. Voltei para casa apaixonado pela Rose, passista da Freguesia do Ó, e definitivamente aborrecido com o samba enredo. O fuzuê na avenida não foi aprovado, nunca mais voltei. Não voltei e ainda desenvolvi uma aversão a fantasias, alegorias, comissão de frente e a repetição exaustiva de eventos ligados ao carnaval que a mídia promove nesses cinco dias. Esclarecendo que não sou avesso ao samba, sou bom da cabeça e bom do pé... Só restringi meu gosto àquele samba gerado, nascido e criado no morro, bem antes de ser corrompido pelo pagode, axé e similares. Carlinhos Brown, Ivete Sangalo e Daniela Mercury eu conheço porque estão a todo o momento nos noticiários e nas revistas CARAS. E nem seria problema eles substituírem Dodô e Osmar nas festanças transmitidas pela televisão, a agravante é que além deles, uma renca de grupos intitulados musicais, utilizando variações que culminam sempre numa referência à popozuda, à bundinha, ao tchan e outras terminologias inconvenientes a uma crônica de família como esta, tomaram conta da avenida e da folia. Não contentes com o tapinha que não dói, inseriram até um tigrão no caldeirão de gororobas. Triste fim do pandeiro. Pergunto se no morro ainda tem sambista malandro ou se a mangueira foi tomada por esses pagodeiros amestrados a sorrir para todas as câmeras, exibindo seus cabelos oxigenados. Dia desses vi uma reportagem que profetizava o fim da cuíca por absoluta falta de artesões que dessem continuidade à tarefa de construir e tocar tal instrumento. Além da musicalidade nata, é preciso amor a tradição para ser cuiqueiro. Amor e tradição não constam do vocabulário desses jovens, loiros e sorridentes "músicos". Amor e tradição que são os pais das marchinhas inocentes: "lourinha, lourinha dos olhos de cristal, esse ano em vez da moreninha serás a rainha do meu carnaval". Sem tapa na bundinha e sem descer até a boquinha da garrafa, o Braguinha conseguiu divertir milhões de foliões. Recuso-me a misturar minha memória e cultura da caixinha de fósforo a esses corruptores do samba. Todos os meses de fevereiro fico sem rádio, sem TV e sem Carnaval. Mas também não condeno quem cai na folia, aliás, o Noite Ilustrada já previa que muitos se renderiam a nova folia e desceriam na boquinha da garrafa: "Levanta e sacode a poeira e dá a volta por cima". Vai. Vai sacudir sua poeira. Eu fico na minha. Estou apático em relação ao carnaval moderno. Sem segurança, sem samba, sem paixão por alguma passista e sem saco (ops, essa é uma crônica de família) para com essas evoluções Globelezadas, viajo na Sexta a tardinha para Brasília e volto só na Quarta-feira de cinzas. Quando a poeira baixar. Acredito estar rumando ao encontro da paz e tranqüilidade que Brasília oferece nos fins de semana de feriado prolongado. Não existe a menor possibilidade de encontrar o bloco carnavalesco "Unidos do Congresso" desfilando em frente ao Palácio do Planalto. Descarto inclusive a hipótese de presenciar a gorda columbina ACM chorando a ausência do pierrô FHC que fugiu com a camélia Barbalho... Que deu dois suspiros e depois sorriu. Não, não vou até Brasília para ver essa gente que aprova uma CPI antecipando o sabor da pizza, vou em busca da paz que em Sampa não há. Nada de abre alas que eu quero passar. Nada de passistas do umbigo maluco e bumbum elétrico, nada de telecoteco, paticumbum ou ziriguidum. Que o tamborim se cale no planalto central, pois estou chegando. |
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