Tema 013 - CARNAVAL
BIOGRAFIA
O ÚLTIMO FREVO EM PARIS
Ana Cristina Geraldini

Todos os dias ele tropeça, eu disse todos os dias pelo menos um trupicão ele dá. Começa logo cedo, depois do banho quando vai colocar a cueca, eu não sei o que ele faz, deve enganchar o dedão do pé na borda da cueca e catapimba. Só não cai de cara no chão, porque já está “experto”, afinal lá se vão quase 40 anos de tropeços.

Ás vezes ele leva alguns objetos junto, outro dia foi homenageado, levantou para receber não sei o quê e levou junto à cadeira, sabe aquelas de plástico? Pois é, foi parar longe.

Ele tromba também, diversas ocasiões já peguei trombando com o batente da porta e até com a própria porta. Sabe aqueles dias que você levanta, mas ainda está dormindo? Dia desses ele levantou e foi sair do quarto, com a porta fechada, já imagina o que aconteceu, né? Nariz na porta às 5:30 da manhã.

Mas, tem uma que foi cinematográfica e inesquecível, principalmente porque aconteceu na lua-de-mel.

Estávamos na França, mais precisamente em Versailles, já tínhamos conhecido o palácio e seus jardins e estávamos voltando para pegar o trem para Paris.

Chovia muito e estávamos com um guarda-chuva enorme. Paramos para comer algo em frente à estação de trem. Depois de algum tempo, resolvemos atravessar a rua para irmos para a estação, pois o trem sairia no horário marcado.

Ele estava com um sapato claro – “de imigrante” como disse um senhor amigo nosso – solado de borracha liso. Foi a conta dele colocar o pé direito na faixa de pedestre e o malabarismo começou.

Acho que o guarda-chuva serviu para equilibrar senão o tombo seria feio, pendeu para um lado sapateando como se estivesse pisando num chão ensaboado. Pendeu para o outro e depois de algumas idas e vindas conseguiu parar em pé. Parecia um habilidoso Pernambucano dançarino de frevo.

Eu não sabia de segurava ele, se soltava ou se ria.

Quando ele “estabilizou” e parou em pé estávamos encharcados, eu rindo e ele, lógico bravo!

Respiramos fundo e começamos a atravessar à rua, como se nada tivesse acontecido e eu segurando ele pelo braço.

Com todo o cuidado do mundo passamos pelo meio da avenida e quando estávamos alcançando a guia, já na estação, para fechar cinematograficamente sua passagem por Versailles enganchou o pé na guia, saiu a passos largos, para o deleite de uma senhora grávida que se abrigava da chuva e assistiu ao espetáculo.

Faz umas duas semanas ele conseguiu vestir-se sem tombar, foi motivo de comemoração e aplausos às 6:30 h. da manhã.

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