PASSARINHO
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Pedro
Feitosa
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Bom dia, uma manhã linda aqui em Porto Alegre; estou sentado no escritório rabiscando essas palavras e observando a paisagem lá de fora. Percebo de imediato que algo mudou desde a última vez que me dei ao luxo. Descobri está faltando: o canto dos passarinhos. Quando cheguei aqui, eles já estavam morando naquela velha árvore aqui em frente de casa, já eram proprietários dela; várias famílias, o que me fazia acreditar que aquela árvore era como um condomínio. Todas as manhãs estavam ali, cumprindo o seu dever matinal, nos proporcionando as melhores melodias. Hoje, porém, não estão mais lá, o que será que aconteceu?Será que se mudaram pra uma outra árvore maior e melhor localizada? Será que se cansaram de ouvir esse barulho infernal vindo do trânsito? Não sei, a única coisa que sei é que se mudaram, deveriam ter seus motivos. Falo isso porque realmente me preocupo com eles, já eram da família mesmo! E além do mais, são animais muito inteligentes e sensíveis. São como deveríamos ser: alegres, humildes e principalmente honestos. Ah, se todos os homens pudessem ser um pouco passarinhos: um pouco joão de barro, para construir lares, e não apenas casas; um pouco beija-flor, para saber sugar somente as coisas boas da vida; um pouco andorinha, para servir o outro, como a mãe alimentando seus filhotes; um pouco pombo, para transmitir somente boas mensagens às pessoas. Porém o mundo em que vivemos hoje não é assim, os passarinhos estão sumindo, dando lugar a outras aves de caráter duvidoso, como por exemplo os pavões - pessoas que só pensam em aparecer, mal sabem que imagem não é nada, conteúdo é tudo. Temos também um outro bom exemplo, os abutres. Quem são os abutres? Não vai dizer que não sabe? Tudo bem, vou dar algumas pistas: são pessoas que sobrevivem às custas de outros como parasitas, ás vezes aparecem em Brasília, mas ficam só alguns dias. E daí, descobriu? E é assim que nossa sociedade está divida. E de quem é a culpa? É claro que é nossa, a partir do momento que fechamos nossos olhos e fingimos que está tudo bem: que votamos, que não temos fome, que o salário mínimo é suficiente para viver, que a saúde está bem, que a educação é boa, fingimos até que somos brancos! Não podemos mais continuar coniventes a isso, senão estaremos condenados a viver sobre o domínio dessas aves medíocres. Porém essa mudança deve iniciar primeiro em nossa mente, uma vez que não sabemos mais como ser passarinhos, temos que resgatar esses valores e sobretudo participar ativamente da sociedade: questionando, criticando e sugerindo. Somente assim poderemos evitar a multiplicação dessas aves anódinas e viver em harmonia nesse grande condomínio de passarinhos. |
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