ITAMAMBUCA
|
|
Maurício
Cintrão
|
|
O beija-flor bebia da água adocicada enquanto falávamos de amenidades, como é usual em visita à uma casa de praia dos amigos. Mas poucas casas são tão amigáveis como aquela que visitamos naquele sábado para domingo do fevereiro que se iniciava. E não estou falando de bom gosto em arquitetura ou engenharia, o que não falta por lá. Falo, isso sim, do quê de magia, difícil de descrever, mas inesquecível, que faz as pessoas se sentirem melhores. Algumas casas têm disso. Aquela tem, com certeza. Os Almeida empregaram tal tecnologia para construir o seu recanto em Ubatuba que a sensação de bem-estar é semelhante à da poltrona onde se acomoda o corpo cansado e, misteriosamente, recupera-se a vitalidade. Não se trata de concreto. A casa é de alvenaria, é claro! Mas parece que foi feita de sonho, daqueles sonhos gostosos que a gente lembra quando acorda. Tem um ar que recompõe as pessoas, uma espécie de tomada para o universo. É isso, uma pequena e singela tomada para a energia da paz. Sem querer, não pude deixar de me sentir como aquele passarinho. Se é que o beija-flor pode ser chamado de passarinho. É belo, colorido e esperto, como o canário, por exemplo. Mas é rápido feito mosquito, leve tal borboleta e imponente como cavalo marinho. Mais parece um anjo preguiçoso do que um pássaro pequenininho. É evidente que não tenho porte nem talento para voejar por aí. Muito menos levo jeito para namorar potes plásticos com água adocicada. E faltam-me o lirismo e a graça daquele bichinho. Ah, mas isso não importa. Eu sei que você vai dizer que isso é coisa de frutinha. Mas foi assim que me senti, feito passarinho, bebendo da água doce daquela casa inspirada e na companhia agradável daqueles amigos. Foi um final de férias digno de beija-flor na primavera florida, apesar de verão, apesar de mim mesmo. |
|
Protegido
de acordo com a Lei dos Direitos Autorais - Não reproduza o texto
acima sem a expressa autorização do autor
|