Tema 011 - PASSARINHO
BIOGRAFIA
TER OU NÃO TER CARRO, EIS A QUESTÃO
Larissa Schons

- Desisto!

- De quê?

- De comprar o meu quatro rodas.

- Por quê? Se era o que você mais queria.

- Era. Não é mais.

- O que houve? Você gastou o dinheiro?

- Nada disso meu amigo. O que aconteceu foi que eu pensei e meditei sobre o assunto.

- Tá... e daí?

- E daí!? Ora meu amigo. Você não imagina?

- Não.

- Tá bom, eu explico. Pesei na balança os prós e os contras da aquisição de um carro. Adivinha? Os contras acabaram com o meu sonho.

- Como assim? Ainda não entendi.

- Puxa! Você é bem curto de imaginação. Pensa comigo: um carro é bom para passear, não depender do ônibus, nem de seus horários esporádicos. Um carro é legal pra conquistar gatinhas, sair na chuva e no frio, de noite, de dia a qualquer hora. Dá pra ir a qualquer lugar.

- Então, um carro não é bom?

- É, mas...

- Mas o quê?

- Mas tem muita coisa negativa. Por exemplo: Se eu vou comprar um carro vou ter que pesquisar preços, ofertas, vou ter que escolher marca, modelo, cor e toda aquela parafernália dos carros. Depois ainda vou ter que pagar impostos, taxas, etc, etc, etc.

Posso te dar outro motivo: Você vai ao centro da cidade pagar suas contas e deixa o bendito do carro estacionado durante quinze minutos. Quando você volta tem um flanelinha lhe pedindo uns real por te olhado o seu carro. Você paga. Daí você estaciona no próximo quarteirão. O que acontece? Outro pivete pedindo dinheiro. Aí lhe diz que já pagou o tal pedágio, mas ele te responde: - Ô tio, cê tava fora da minha área. Um quarteirão e eu estava fora de seu perímetro.

Cheguei à conclusão de que cada quarteirão tem um flanela e eu não posso, nem vou pagar a todos em cada lugar que eu parar. Ainda nesse mesmo passeio, cada vez que você volta pro seu carro, tem uma pilha de folders, propagandas das mais diversas atividades comerciais, sem contar alguma multa imbutida. São tantos papéis que dá pra encadernar e fazer um catálogo de páginas amarelas.

Ah! Falando em multa. Você tem que andar de olho onde estaciona, de olho no velocímetro e outras cositas mais. Tudo bem. Sou contra a velocidade, mas não quero pensar em pagar multas; além do mais teria de deixar de tomar a geladinha do happy hour. Tudo menos isso.

Sem falar naquele vizinho chato, que não fala com você a não ser pra brigar ou chamar sua atenção com relação ao volume do som. O que é que ele faz? Pede uma carona pra você. Então você dá a tal carona e no outro dia ele pede de novo. Quando você vê, toda a família dele está instalada no seu carro todo dia e você ainda tem que levar a sogra do cara pra consulta médica. Pode!? Meu amigo, ter um carro é ter uma família. Se duvidar gasta mais do que a sua esposa no shopping. É dinheiro pra gasolina, é dinheiro pra revisão, é dinheiro pro seguro. Sem falar que você perde os jogos de futebol do fim de semana pra ter que lavá-lo e se sujar todo cada vez que tiver que trocar o pneu. O carro suga seu dinheiro e suas energias, camarada.

E pior é que chega seu filho e pede o carro pra dar um rolê. Aí, cinco minutos depois você recebe um telefonema. dizendo que seu filho bateu com o carro, ele está bem, ninguém saiu ferido, mas o carro foi perda total. Eu já sei o que você vai dizer, que eu não tenho nem esposa, nem filhos, mas, cara, é assim que tudo começa. Então, você acha ou não que eu tenho razão?

- É, tem sim. Pensando bem, você está com a razão. E sabe de uma coisa, enquanto você falava dos pontos negativos de ter um carro, eu decidi vender o meu.

- Não! Não faça isso!

- Como que não!? Não foi você mesmo que disse que o carro é um problemão.

- É, foi. Mas não é pra levar tão a sério assim; além disso, se vocêvender o carro quem é que vai me dar carona?

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