Ciúmes não tem idade, não tem sexo, raça, nem espécie.

Quem já não viu irmãos brigando para conseguir a atenção dos seus pais?

Até eu quando pequena já guerriei por uma mísera aspirina. Não que eu estivesse com dor de cabeça, mas era por puro ciúmes. Se o meu irmão tinha ganhado a aspirina (que para mim parecia mais uma balinha) eu também tinha o direito de tê-la. Vejam vocês, isso com apenas quatro anos de idade. Coisinha tola, ciúmes de criança, diriam.

Conheço outras "criancinhas" que não são tão diferentes assim.

Não digo fisicamente, mas o ciúmes é o mesmo.

Ciúmes de um passarinho e de um quati. Pode parecer estranho, mas eu já presenciei tal cena.

Já era assim, digamos, inusitado criarem um quati e um passarinho num restaurante, mais inusitado ainda era ver os dois tentando, cada qual da sua maneira, ganhar a atenção dos fregueses.

Como o passarinho estava na gaiola era difícil para ele se tornar mais presente.

Já o quati não, chegava perto dos clientes se esfregava todo, agachava e ficava nos olhando com aquela carinha de criança carente.

E era exigente a criaturinha. Ganhava torrada, rejeitava. Ganhava miolo de pão, rejeitava. Ganhava filezinho de alcatra, rejeitava. O negócio dele era doce.

Quando o garçom chegou com a sobremesa começou o espetáculo à parte.

Passarinho cantando incessantemente e quati se mexendo sem parar.

Tudo por ciúmes! Ciúmes de um pudim de leite.

Não preciso dizer que quem ganhou o páreo foi o quati. Estava mais perto, bem mais próximo, com as patinhas pedindo o doce, não teve jeito não.

O quati devorou o pudim de leite e ganhou toda a atenção dos clientes.

Todos a admirar a maneira que o bichinho comia a guloseima.

Já o passarinho ganhou meu miolo de pão, um afago na cabecinha, o meu carinho e esta crônica!

Sempre gostei mais de passarinho, do seu cantar, da sua graciosidade, e sempre estive do lado dos mais fracos e oprimidos.

Para mim tamanho não é documento. E para você?