Tema 011 - PASSARINHO
BIOGRAFIA
O PASSARINHO
Alberto Carmo

Dia de sol, manhã de Domingo, abro a janela do meu quarto no 88º andar do “Capão Bonito Inn”- o único hotel “8 estrelas” do planeta, e dou uma espiada na praça central. Pássaros revoando entre as árvores, um ar perfumado de primavera, uma bandinha tocando no coreto, só interrompida quando um Concorde passava baixinho rumo ao “Capão’s International Airport”. Passa baixinho mesmo, pois esse é o primeiro aeroporto coberto, feito com tecnologia local, e onde só pousam jatos especiais - não é qualquer piloto que consegue “embocar” a aeronave bem no meio da pista. Olho a façanha e penso com os meus botões: O que é a tecnologia! - depois que inventaram o champanhe em caixinha, com um“chip” que imita o espocar da rolha, nada mais vai me impressionar nesta cidade! Visto-me rapidamente e desço pelo elevador panorâmico com visão de360 graus - como eles fizeram isso, eu ainda não descobri. - Vou tomar café na praça - pensei. Cruzei, alegre, as alamedas arborizadas da praça, procurando por uma das 50 lojas de conveniência com tetos de néon imitando sapé.

Minha alegria devia estar contagiante mesmo, porque todos sorriam para mim. E as crianças, na sua pureza permanente, falavam às mamães: - Olha o moço mãe! O romantismo das cidades do interior sempre me atraiu. Finalmente encontrei um local adjacente ao coreto, onde poderia tomar meu café e observar a praça, a bandinha, o movimento geral. Bem ao lado havia um daqueles fotógrafos de pracinha - um autêntico lambe-lambe; aqueles que enfiam a cabeça num pano escuro. A cada casal que se aproximava e pedia uma foto ele dizia: - Diga “xis” e olhe o passarinho! - e “click”... mais uma foto de um amor. Os casais saíam coma foto e, ao passarem por mim, sorridentes, brotavam pequenos coraçõezinhos pelos olhos piscantes. Concluí que era ele, o fotógrafo, e não eu, quem contagiava a todos com os sorrisos que eu via no rosto de todos que passavam perto de mim. Até o garçom que me servia no balcão estava todo sorrisos. O amor é lindo mesmo! - concluí. Terminado o café, fui andar um pouco - fazer o “footing”, como sabem. E sorrisos ao meu redor, de todos os tipos, cores e sons. E o fotógrafo lançando sua mensagem de alegria: - Diga “xis” e olhe o passarinho! Cheguei mais próximo para assistir a uma foto de um casal de crianças. O carisma do fotógrafo era tanto, que nem precisou dizer o seu: - Diga “xis” e olhe o passarinho! - as crianças olharam para mim e sorriram... na verdade racharam o bico. Pensei: - Puxa! Mas é alegria pra ninguém botar defeito mesmo! Aproximei-me do fotógrafo para lhe perguntar como conseguia contagiar as pessoas daquela maneira. Antes que eu falasse alguma coisa, ele olhou para mim, sorriu - contagiou-se a si mesmo parece - e disse: - Olha o passarinho e diga “xis”! Ué? - respondi- Mudou a ordem da frase pra mim? A que devo essa honra? O alegre senhor olhou na direção da minha cintura, e sorriu de novo.Instintivamente protegi minhas partes com a mão, e senti que o zíper estava escancarado... Olhei o passarinho, olhei para o fotógrafo, e  disse: - Xis!

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