O
CÓDIGO
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Felipe
Lenhart
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Terça-feira de carnaval. 3:30 da matina. Uma grande avenida, 4 pistas. Num lado da pista, um trio elétrico agitando a mutidão. O som é ensurdecedor. No outro, um orelhão, ao lado de um banquinho. Toca o telefone. Atende lá, Mané. É pra ti, cara. Que isso, rapaz. Ô, Piolho, tá gozando da minha cara, é? Que nada, velho, atende logo essa porra. Deve ser Deus... hahahaha Mané larga a garrafa de vodka no banco e dirige-se ao orelhão. Irritado, cambaleando. Alô? Opa, como vai? O que? Como vai? REPETE, QUE EU NÃO TÔ OUVINDO NADA. QUEM É? É Deus! Como? É DEUS!!! Ih, cara, cê ligou pro número errado, isso aqui tá maior bagunça. Tô entendendo nada, merda. Garoto, olha o respeito. Isso aqui é uma casa de família. Você não é o Manoel? Sou. Manoel Antunes, né? É. Pois então, cristão. Aqui quem fala é Deus, o Todo Poderoso. Lembra de mim não? Ô filho da puta. Vai te catar, vai. Manoel? Espera, Mané. Assim você vai para o inferno, meu pupilo. Cara, quem é que tá falando? Isso só pode ser um ecuvo.. equívoco! É, é um equívoco, seu Deus de uma figa. Essas crianças... Ô Mané, presta atenção: você não tá vendo uma garota de amarelo ali do outro lado da rua, na multidão? HÃ? É, ela tá de amarelo, e tem um chapéu de mexicano, tá vendo? Calmaí (Piolho, me dá um gole aí, cara; é Deus, camarada. Sangue bom). Tô, tô vendo ela ali sim. É uma coisinha, hein seu Deus? É linda, lindíssima... Será que eu tenho chance com ela? (Piolho, seu bosta, me dá logo essa porra aí, véio) QUÊ? Errr... Nada, não, Deus. Então, será que eu tenho chance? Vai fundo, Mané... mas usa o código. Será? Ih, mas chegou o namorado da gata, Deus meu. E agora? Tão no maior amasso... Dá bola não, meu filho. Usa o código. Vai lá... ...tútútútú... Caiu. Quem era, Mané? Era um tal de Deus, cara! Falou pra mim chegar junto daquela gata ali, a de amarelo com chapéu de polonês. Tá vendo? Mexicano, seu bêbado, mexicano... É, isso aí. É pra mim usar um código que ele me falou... Té louco, é? Deus, cara? Te passaram um trote e tu caiu direitinho... Que isso, tá me chamando de laranja, Piolho? Te liga moleque. Então vai lá, vai. O cara que tá com ela é gigante. Vai te enfiá um monte de porrada. E olha, não me chama pra ajudar, hein? Te fode... hehe Então tu vai ver.. Mané atravessa a rua sob o olhar apreensivo de Piolho, que permanece sentado no banquinho, bebericando a vodka quente. Temeroso. Mané entra no empurra-empurra, chega no casal e pede licença pra garota, que quase perde o chapéu de mexicano quando dá um pulinho, acompanhando a música. "Fodeu", pensou o Piolho. Após falar alguma coisa no ouvido dele, o namorado da menina abre um sorriso e aperta a mão de Mané e sai de perto, pulando ao ritmo do Carnaval. Os dois, então, beijam-se longamente, e somem da vista de Piolho. E agora, Mané?, diz para si mesmo o perplexo Piolho. Toca o telefone, novamente. Sem hesitar, Piolho salta do banco e corre para atender. Alô? Piolho? Você é o Piolho, né? Sim, Deus, pode falar. Às ordens. Qual é o código? Meu filho, vá para casa e durma tranqüilo. Oras, por que seu Deus? Eu também quero uma mulher!!! Rapaz, meu cristão, não diz bobagem. Vai pra casa... PORRA NENHUMA. EU QUERO FUDER! Olha o respeito... Além do mais... Além do mais o que? É que... É que o que??? Me dá o código, ô bêbado! Ô amigo, esquece o código. Aquela menina de amarelo, de chapéu mexicano, linda, líndissima, e que o Mané paquerou há pouco, se chama Rodolfo... ...tútútútú... |
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